Especialistas citam os benefícios da técnica milenar.
Psiquiatra utiliza o método em pacientes do Hospital da Lagoa
Carolina Lauriano Especial para o G1, no Rio
Na semana em que o cineasta americano David Lynch está no Brasil para divulgar não um novo filme, mas seu livro, "Em águas profundas - Criatividade e meditação", fica a pergunta: meditar por quê? O que fez o premiado diretor adotar a prática há mais de trinta anos e, agora, escrever um livro sobre o assunto?
Em entrevista realizada no Projac na segunda-feira (4), Lynch disse que gostaria de levar a meditação para todas as escolas brasileiras. Ele acredita que isso acabaria com o estresse entre os jovens e livraria o país da violência.
No Brasil, outras celebridades também utilizam a prática no dia-a-dia. Segundo o professor e presidente da Sociedade Internacional de Meditação Transcendental no Rio de Janeiro, Kléber Tani, já fizeram parte da sua turma figuras como o judoca Flávio Canto, o cantor Moraes Moreira, a apresentadora de TV Cynthia Howlett e a atriz Julia Lemmertz. Tani diz que a lista de benefícios que a técnica proporciona para a mente e o corpo é imensa.
“Os efeitos podem ser observados em três ou quatro dias e são muitos. Em linhas gerais, a meditação aumenta a resistência ao estresse, reduz a pressão sanguínea, diminui a ansiedade, melhora a memória e a concentração, alivia a insônia e aumenta a criatividade - o que é a base para a criação de idéias revolucionárias”, diz o professor.
Num mundo tão apressado, violento e estressado, a meditação – técnica milenar trazida da Índia - deveria constar dos planos de quem deseja começar um novo estilo de vida.
Tani argumenta que qualquer pessoa pode aprender a técnica, desde uma criança com 5 anos até um idoso de 90. Além disso, a técnica pode ser praticada em qualquer lugar - só é preciso sentar e fechar os olhos. Nem mesmo um ambiente silencioso é necessário. E é por isso que a meditação é bem adaptada à rotina histérica da sociedade atual, já que, diz Tani, pode ser praticada em metrô, praça, avião ou no trabalho.
O professor explica que existem vários tipos de meditação. A mais conhecida e a que ele pratica é a meditação transcendental, difundida pelo mundo há mais de 50 anos, pelo guru indiano Maharishi Mahesh Yogi.
Segundo ele, o ideal é meditar duas vezes ao dia, durante 20 minutos. “Graças ao mantra, todas as qualidades da pessoa se expandem e, então, ela é capaz de alcançar um nível mais profundo da vida”, diz Tani. Mantra é instrumento para conduzir o pensamento - no caso da meditação transcendental, uma palavra ou um som que deve ser repetida por quem medita e deve ser mantida em segredo.
Outras técnicas
Professor e pesquisador há mais de 30 anos de temas ligados à meditação, Pedro Tornaghi, que coordenou o VI Congresso de Meditação do Rio de Janeiro nos dias 2 e 3 de agosto na PUC-Rio, não segue uma linha única. Ele ensina desde técnicas respiratórias à terapia dos chakras. Para ele, cada um deve optar pela técnica que combine mais com a sua personalidade.
"A meditação transforma o ser humano como um todo e permite à pessoa entrar em contato com as partes mais profundas da subjetividade. É como um mergulhador que coloca os óculos de mergulho e consegue ver as riquezas do fundo do mar. Ele enxerga coisas que ele nunca imaginou ver", diz Tornaghi.
É como se fosse uma faxina do subconsciente. De acordo com Tornaghi, o sistema nervoso fica mais equilibrado e, por isso, a meditação é importante aliada na cura de doenças.
Outro tipo da técnica é a meditação zen, que tem base nos ensinamentos budistas. O psiquiatra e chefe do Serviço de Saúde Mental do Hospital da Lagoa, Alcio Braz, concorda que a meditação é mais um instrumento para a cura de algumas doenças.
Responsável pelo templo zen do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, o médico conta que a idéia de implementar algumas dessas técnicas de tratamento no Hospital da Lagoa surgiu a partir da constatação da necessidade de se encontrar outras maneiras de ajudar os pacientes, além das medicações e métodos tradicionais.
“Recebo muitos pacientes com câncer, que estão em processo de quimioterapia e, consequentemente, com a parte psicológica muito abalada. Além do remédio, eu também ofereço a meditação, porque o paciente aprende a lidar melhor com a realidade. Além disso, devido ao relaxamento que as técnicas de respiração proporcionam, a meditação acaba aumentando também a imunidade. Definitivamente, o remédio não é 100% da cura.”
O psiquiatra explica que uma melhor aceitação da realidade leva a uma melhor aceitação aos tratamentos tradicionais, aumentando a tolerância aos efeitos colaterais dos medicamentos e a sua eficácia.
Segundo Braz, não é preciso ser budista para meditar, nem sequer conhecer o budismo. O psiquiatra dá o exemplo da história de um paciente que ele tratou há alguns anos e que era evangélico:
“Era um lavrador do interior de Minas, que estava internado há seis meses, aguardando por um transplante de pulmão. Ele aprendeu as técnicas da meditação zen no leito do hospital e, a partir de então, conseguiu aceitar melhor toda a situação, passou a receber visitas – antes nem os filhos ele queria receber – e até criou um sistema para ele ficar mais confortável com os tubos de respiração.”
Braz acredita que o auto-conhecimento através da prática da meditação pode trazer a capacidade de aceitar duras realidades e de cuidar melhor de si mesmo, dos outros e do meio ambiente, tornando o mundo um local menos difícil de viver.
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