sábado, 19 de abril de 2008

Estudo mostra que deixar o mercado de trabalho pode levar a desânimo e doenças

03/04/2008 - 08h29

IARA BIDERMAN
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Uma pesquisa recente adverte: "Aposentar-se pode ser prejudicial à saúde". Publicado em março no American Journal of Epidemiology, o levantamento, da Universidade de Atenas (Grécia), acompanhou cerca de 17 mil homens e mulheres por quase oito anos. Os participantes não tinham doenças prévias, como as cardiovasculares, diabetes ou câncer. No fim do estudo, foram feitos ajustes estatísticos para que condições como tabagismo, obesidade e sedentarismo não influenciassem os resultados. Em números: os aposentados apresentaram 51% mais risco de morte em relação aos que continuaram trabalhando.

O risco cresce em proporção inversa à idade do aposentado: quanto mais jovem, maior chance de morte. Entre os participantes que tinham menos de 55 anos, por exemplo, 9% dos aposentados morreram no decorrer do estudo, contra apenas 1% de morte entre os não--aposentados.

"Concluímos que a aposentadoria precoce pode ser um fator de risco de mortalidade em geral e, particularmente, de morte decorrente de doenças cardiovasculares em pessoas aparentemente saudáveis", disse à Folha por e-mail a coordenadora da pesquisa, Christina Bamia, do departamento de higiene e epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Atenas.

Para Bamia, os dados contradizem a percepção generalizada de que a aposentadoria levaria a uma melhor qualidade de vida e ao aumento da longevidade. No entanto, ela diz não ter dados para explicar os motivos que levam às doenças e à morte."Com os dados disponíveis no estudo, não podemos indicar os mecanismos que estão por trás dessa associação, mas suspeitamos que a aposentadoria pode envolver a deterioração do status econômico, o abandono de hábitos saudáveis ou a adoção de hábitos prejudiciais à saúde, além de todas as conseqüências psicossociais que ela envolve."

Os fatores psicossociais são considerados decisivos pelo cardiologista Roque Savioli, diretor da Unidade de Saúde Suplementar do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo). "Estudos mostram a importância desses fatores no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Em minha experiência clínica, percebo como é comum o aposentado experimentar uma falta de objetivos e de sentido na vida, que leva à depressão. Assim, passa a não se cuidar, abandona as atividades físicas, enfim, contribui ainda mais para o surgimento da doença", diz.

Embora o estresse profissional também seja um fator de risco para a saúde do coração, Savioli acredita que, ao se aposentar, a pessoa pode ser submetida a outros tipos de estresse, não menos importantes do que os vividos no trabalho."Entre eles, o estresse marital. Quanto mais tempo a pessoa fica ociosa, maior a probabilidade de surgirem conflitos com os familiares", afirma o cardiologista.

Ficar ocioso e sem perspectiva é o problema. "A aposentadoria em si não mata, mas sim a forma como ela é encarada", diz Lucia França, professora do mestrado em psicologia da Universidade Salgado de Oliveira (no Rio de Janeiro) e autora de "O Desafio da Aposentadoria" (ed. Rocco).

Ela diz que se aposentar bem ou mal é algo relacionado a uma série de atitudes tomadas durante toda a vida profissional, e não apenas na hora de encerrá-la. "Se o profissional é envolvido demais com a organização onde trabalha, deixar o emprego pode gerar depressão e doenças", aponta. Outras atitudes importantes são equilibrar a vida profissional com a pessoal e diversificar interesses --quem faz isso tem mais chance de encontrar atividades que tragam realização ao deixar o emprego formal.

Valor social

Um aspecto que nem sempre é percebido, mas que, para França, pode estar na origem do estresse nas relações familiares, é a percepção de perda de status, do valor social que a pessoa tinha vinculado à sua ocupação profissional. Em contrapartida, há pessoas que encontram, na aposentadoria, tempo para se dedicar a atividades em que a valorização social adquire um sentido muito mais amplo.

Trabalhar para ajudar outras pessoas também traz benefícios pessoais --entre eles, manter a saúde, a disposição física e a mente ativa.

A professa Patrícia Raymundo, 55, trabalhou por 25 anos na rede municipal de ensino de São Paulo. Aos 44 anos, aposentou-se. "Havia acabado meu tempo. Saí com muita dor no coração", conta. Por um lado, ao parar de trabalhar, ela conseguiu mais tempo para se dedicar à mãe doente. Mesmo assim, diz que sentia muita falta da escola, das crianças e do convívio profissional e que "ficava às vezes melancólica". Quando uma amiga falou com Patrícia sobre a ONG Viva e Deixe Viver, que prepara e leva voluntários para contar histórias para crianças hospitalizadas, não teve dúvidas e, após quase quatro anos inativa profissionalmente, pegou a bagagem que havia acumulado como educadora e fez o curso que a ONG promove para preparar seus voluntários.

Hoje, ela diz que não se considera aposentada. "Minha semana é rica, cheia de possibilidades. Tenho sempre uma história nova para contar. Isso, sem dúvida, contribui para a minha boa saúde", afirma.

Com o trabalho voluntário, surgiram até oportunidades profissionais remuneradas. Hoje, ela é convidada por livrarias e por empresas para contar histórias, seja para o público infantil, seja para o adulto, em programas corporativos de treinamento de funcionários.

Além de todos esses benefícios, Patrícia ressalta que, para exercer sua atividade de contadora de histórias voluntária, ela precisa sempre se reciclar, estudar, ler muito. Assim, não há espaço para a mente ociosa.

Redescoberta do prazer

"Uma mente ágil não dá espaço para a tristeza", afirma Ana Alvarez, fonoaudióloga e autora de "Deu Branco" (ed. Record), entre outros livros. Ela acha que a aposentadoria se torna um risco para a saúde quando a pessoa não busca novas experiências e se isola. "Os mecanismos de recompensa do cérebro não são ativados e ele começa a trabalhar desmotivado. Não encontrando mais situações que proporcionem prazer, o cérebro passa a funcionar como em estados de depressão. Aí a pessoa acaba adoecendo", diz.

E, de fato, Márcia Villela, 54, adoeceu. Aos 18 anos, começou a trabalhar como relações públicas. Aos 46, parou. O primeiro ano ela passou cuidando do marido doente, que acabou morrendo. Mas, depois, não conseguiu retomar suas atividades e "entrou em parafuso", conta. "Tive câncer de mama e de útero e neuralgia do trigêmeo [disfunção do nervo craniano que causa dores intensas]. Por quatro anos, vivia meio na marra, totalmente 'down'."

A sorte de Márcia foi, mesmo que "na marra", ter aceitado o convite de uma amiga para participar de um chá dançante. A dança foi para ela o caminho para redescobrir um sentido na vida. E recuperar o prazer de viver, a auto-estima e a saúde. "Hoje, só tenho dor na sola do pé, de tanto dançar. De resto, a saúde está perfeita", afirma.
Dançando, Márcia --que diz que estava "um monstro de gorda" após quatro anos de inatividade-- perdeu 26 quilos, fez novos amigos e até descobriu uma nova área de trabalho. Prestes a abrir uma espaço para a prática de danças, comemora: "Transformei meu gosto em negócio".

Sem pendurar as chuteiras

"A depressão entre aposentados é alta, atinge entre 10% e 15% deles. [O distúrbio] tem causas orgânicas, químicas, mas fatores psicológicos e ambientais acabam sendo precipitantes e mantenedores dos quadros depressivos", diz João Toniolo Neto, professor de geriatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Embora a aposentadoria possa desencadear esse quadro, Toniolo Neto acha precipitado considerar o fato causa direta de doenças e mortes. "A pessoa pode começar a se isolar, comer mal, tornar-se sedentária, fumar mais, e tudo isso são fatores de risco, mas não é tão simples fazer uma correlação imediata."

O cardiologista José Carlos Pachon, diretor do serviço de arritmias do HCor (Hospital do Coração) de São Paulo, também vê com reservas as conclusões do estudo da Universidade de Atenas. "No estudo, não há informações importantes, como quantas aposentadorias foram compulsórias e quantas foram voluntárias.Esse seria um dado fundamental para avaliar as conseqüências sobre a saúde cardiovascular, já que a aposentadoria compulsória pode representar o início de uma vida 'negativa', ao passo que a voluntária pode representar o fim de muitos problemas e o início de uma fase 'positiva'", diz.

Pachon conta que, para um grupo de pacientes, a recomendação é parar de trabalhar --são, por exemplo, profissionais submetidos a níveis muito altos de estresse. Para outro grupo, diz que recomenda que continuem trabalhando. "São os que entram em depressão quando param. Isso aumenta vários fatores de risco, como hipertensão, diabetes, obesidade abdominal e a chance de desenvolver a síndrome metabólica."

Roberto Joaquim, 65, está no grupo dos que podem (e devem) continuar trabalhando. Para ele, trabalho não é estresse, e sim fonte de prazer. Aposentado da empresa em que trabalhou por quase 38 anos, diz que nunca pensou em "vestir o pijama e pendurar as chuteiras". Deu um jeito de encontrar outra fonte de renda. No início, montou uma loja, mas não era isso o que queria da vida.

Mas não desistiu e, com o tempo, montou sua própria empresa, que produz agulhas especiais, colchetes e ganchos. Um de seus clientes é a empresa em que foi empregado por décadas. Tem boa saúde e, como era de se esperar, ela é atribuída em boa parte ao fato de continuar ativo. "Enquanto você trabalha, tem sonhos. Se deixar de sonhar, pode morrer."

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Alzheimer do excesso

16/04/2008 Agência FAPESP – Quem bebe ou fuma em demasia corre maior risco de desenvolver mais cedo a doença de Alzheimer do que aqueles que são moderados em qualquer das duas atividades. A afirmação é de um estudo que será apresentado esta semana durante a 60ª reunião anual da Academia Norte-americana de Neurologia, em Chicago.

Os pesquisadores avaliaram 939 pessoas com mais de 60 anos com diagnósticos de possível ou provável para a doença. Foram reunidas também informações de membros das famílias sobre históricos de fumo e de uso de bebidas alcóolicas.

Em seguida, os autores determinaram se os participantes tinham a variante A4 do gene apoE, cuja presença aumenta o risco da doença de Alzheimer. Pessoas com a variante costumam desenvolver o mal antes das demais.

Os cientistas verificaram que 7% dos pacientes tinham histórico de beber pesadamente – definido como o consumo de mais de dois drinques por dia. Quanto ao fumo pesado, de mais de um maço por dia, esteve presente em 20% dos participantes. Desses, 27% apresentava a variante genética do apoE.

Os autores do estudo descobriram que aqueles que bebiam pesadamente desenvolveram Alzheimer em média 4,8 anos antes. Aqueles que fumavam mais de um maço de cigarros por dia desenvolveram a doença em média 2,3 anos antes. E quem tinha a variante A4 manifestou o mal três anos antes do que os demais.

Segundo os cientistas, aqueles que tinham os três fatores desenvolveram a doença em média 8,5 anos antes do que quem não tinha nenhum deles. Os 17 pacientes que tinham a variante A4 e bebiam e fumavam pesadamente desenvolveram Alzheimer em uma idade média de 68,5 anos.
A doença se manifestou em média aos 77 anos para os 374 voluntários que não bebiam ou fumavam em excesso e que também não tinham a variante genética.

“Os resultados são importantes por indicarem que se pudermos reduzir ou eliminar o fumo e a bebida em excesso poderemos adiar substancialmente o início do Alzheimer e mesmo reduzir o número de pessoas com a doença”, disse Ranjan Duara, do Centro Médico Monte Sinai e um dos autores do estudo.

“Projeções anteriores estimaram que um atraso de cinco anos na manifestação da doença levaria a uma redução de quase 50% no total de casos da doença. O novo estudo destaca que esses dois fatores, fumar e beber pesadamente, estão entre os mais importantes para se tentar prevenir o Alzheimer”, afirmou Duara.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Hábitos diferentes, riscos novos

14/04/2008

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Os hábitos de vida do Ocidente podem estar deteriorando a saúde da população nipo-brasileira. Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entre 1993 e 2007, em Bauru (SP), indicou uma alarmante prevalência de diabetes e fatores de risco cardiovascular entre descendentes de japoneses.

No entanto, a fase final do estudo, que consistiu em uma intervenção junto a essa população, demonstrou que algumas mudanças na dieta e a prática de atividades físicas podem ser medidas efetivas para combater o problema.

A primeira fase da pesquisa, em 1993, indicou que a prevalência de diabetes entre os descendentes de japoneses era de 20%, em média, contra 7,5% na população brasileira em geral. Em 2000, a segunda fase revelou que o problema havia se agravado: a prevalência de diabetes entre nipo-brasileiros era de 35%.

Os resultados da segunda fase – um Projeto Temático apoiado pela FAPESP – foram publicados na mais recente edição da revista Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia. A terceira fase foi realizada entre 2005 e 2007.

De acordo com a autora principal do artigo, Antonela Siqueira, que atualmente é pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), os descendentes de japoneses têm uma predisposição genética aos males causados por fatores típicos do cotidiano ocidental, como sedentarismo, estresse e alimentação rica em gordura e açúcar.

“A primeira fase do estudo indicou que a prevalência de diabetes entre os nipo-brasileiros era quase o triplo do resto da população. Em 2000, começamos a estudar a presença da síndrome metabólica – o conjunto de fatores de risco cardiovascular, que inclui diabetes, hipertensão arterial, distúrbios lipídicos e obesidade”, disse Antonela à Agência FAPESP.

Bauru foi escolhida, segundo a pesquisadora, por ter uma comunidade nipo-brasileira ampla e pouco miscigenada, com fácil acesso ao hospital em que foram feitas as análises clínicas. Em 1993, foram avaliados 647 indivíduos de 40 a 79 anos, descendentes de primeira e segunda geração. Em 2000, o estudo foi ampliado para 1.330 indivíduos.

“Em 2000, estudamos também os fatores dietéticos que poderiam contribuir para a prevalência da síndrome metabólica, que, conforme detectamos nessa época, era maior que 5%. O aumento do diabetes nos surpreendeu: passou de 20% para 35% em apenas sete anos”, afirmou.

Embora a população nipo-brasileira não tenha uma obesidade importante, os voluntários apresentaram alta taxa de gordura visceral. “O que importa para essas doenças é a cintura abdominal e não a obesidade periférica. Para os nipo-brasileiros, gordura no abdome significa perigo para a saúde. Os problemas aparecem quando a medida passa de 102 centímetros, para um homem ocidental, ou dos 90 centímetros, para um oriental”, apontou.

Os pesquisadores detectaram um aumento de glicemia – ou perda de tolerância à glicose –, que foi associado principalmente ao consumo exagerado de carboidratos refinados, sem fibra, como pão e arroz não-integrais.

“A alta prevalência de síndrome metabólica foi associada a um aumento no consumo de gordura saturada, que aumenta o colesterol ruim. A avaliação longitudinal mostrou que o fator que mais contribuiu para isso foi um consumo exagerado de carne vermelha”, disse Antonela.

O estudo transversal analisou de uma só vez, em uma série de exames, a condição da população de descendentes de japoneses naquele momento e mostrou que todos os indicadores ligados à síndrome metabólica haviam aumentado entre 1993 e 2000.

“Havia aumento do colesterol, do diabetes e principalmente dos triglicérides – associados ao açúcar –, que apareceram aumentados em 66% da população. Enquanto o nível normal é de 150 mg/dL, a média entre os nipo-brasileiros ficou em 240 mg/dL. Alguns indivíduos tinham valores próximos de mil”, afirmou.

A prevalência de doença cardiovascular – que pode resultar em infarto, derrame, obstrução arterial periférica e arteriosclerose, atingiu 14% da população analisada. “Se fosse em idosos, essa prevalência não poderia ser considerada muito alta. Mas, para uma população a partir de 30 anos, é altamente preocupante”, disse Antonela.


Ação efetiva

De acordo com Bianca de Almeida Pitito, doutoranda da Unifesp que participou da terceira fase do estudo, a partir dos resultados da pesquisa de 2000 o grupo começou a planejar um programa de intervenção.

“Ao constatar que o diabetes havia aumentado tão drasticamente em sete anos e que havia prevalência da síndrome metabólica, concluímos que, se nada fosse feito, a tendência era que dentro de mais alguns anos os problemas ficassem ainda mais graves. Por isso, planejamos a intervenção”, disse Bianca à Agência FAPESP.

Com uma equipe interdisciplinar, contando com nutricionistas e educadores físicos, os pesquisadores fizeram a intervenção focada em orientação para mudanças na dieta e estímulo à atividade física. O programa não incluiu aplicação de medicação.

Segundo Bianca, o objetivo era comparar as condições de saúde dos voluntários no início e no fim do programa. “Como havíamos detectado o problema, não seria ético deixar parte da população sem acesso ao programa, por isso não houve condições para trabalhar com um grupo de controle”, explicou.

Foram feitas três avaliações clínicas: a primeira no início da intervenção, em 2005, a segunda em 2006 e a terceira no fim do programa, em 2007. “Foram feitos exames para verificar pressão sangüínea, peso, circunferência da cintura, colesterol, triglicerídeo e glicose. Foram avaliados 653 indivíduos”, disse.

Depois de um ano de intervenção, segundo Bianca, foi detectada uma melhora sensível em todos os parâmetros: obesidade central, glicemia, perfil lipídico, colesterol, pressão sangüínea e gordura abdominal.

“A redução desses fatores ocorreu apenas com a mudança de dieta e de padrões de atividade física, o que mostra que a mudança de hábitos pode ser fundamental para prevenir a síndrome metabólica”, afirmou.

Segundo a pesquisadora a melhora de todos os indicadores em apenas um ano, ainda que não tenha sido drástica, pode ter grande impacto do ponto de vista populacional. Os resultados da análise de 2007 ainda não foram sistematizados.

Para ler o artigo Distúrbios no perfil lipídico são altamente prevalentes em população nipo-brasileira, de Antonela Siqueira e outros, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.

terça-feira, 8 de abril de 2008

domingo, 6 de abril de 2008

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Academia Brasileira de Neurologia ensina como dormir bem

Por Adriana Bifulco

São Paulo, 20 (AE) - Um sono tranqüilo faz qualquer um recuperar as energias. O mesmo, no entanto, não se pode dizer das noites passadas em claro. Por conta do Dia Nacional do Sono, 21 de março, a Academia Brasileira de Neurologia vai promover a Semana Nacional do Sono a partir de amanhã (21) e até o dia 28 para ensinar a população brasileira a adotar pelo menos uma semana de bons hábitos para aprender a dormir melhor.

"Essa campanha tem o objetivo de fazer o indivíduo ver a cama para descansar, repousar e viver o dia seguinte. Não para planejar o que vai fazer. Ao mudar os hábitos as pessoas vão sentir a diferença já no oitavo dia", afirma Gilmar Fernandes do Prado, coordenador do evento, neurologista, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia e professor da Unifesp. "Dormir bem tornou-se uma questão de saúde pública nos dias atuais", afirma.

Segundo o médico, o ideal para os adultos são em torno de sete horas e meia de sono. Rosa Hasan, neurologista que atua na área de Medicina do Sono no Hospital das Clínicas, no Hospital São Luiz-Itaim e é professora na Faculdade de Medicina do ABC, especifica que, na infância, são necessárias de 9 a 10 horas de sono. "Já crianças em idade escolar precisam dormir de 8 a 9 horas. E os adolescentes de 9 a dez horas".

Dormir menos de seis horas, de acordo com Prado, pode causar hipertensão, irritabilidade e alterações no humor. A memória e os reflexos ficam bastante prejudicados e também há déficit de atenção.

Além disso, segundo Rosa Hasan, a falta de sono provoca alteração no metabolismo, levando à obesidade. "Ninguém deve se privar do sono, principalmente motoristas, profissionais que operam máquinas de precisão e estudantes", enfatiza.

As doenças do sono têm impacto na qualidade de vida e na saúde, segundo a neurologista. "Quem tem apnéia, por exemplo, deve tratar esse mal para conseguir dormir direito, pois ela aumenta o risco de problemas cardiovasculares".

Insônia - A insônia pode ser provocada por vários fatores que variam de expectativas (viagens, compromissos, reuniões de trabalho, provas), problemas clínicos e emocionais passageiros. Os critérios utilizados para definir se alguém tem insônia são o tempo, a freqüência e o período que a pessoa demora para dormir ou voltar a dormir superior a 30 minutos. Esta dificuldade em iniciar ou manter o sono deve ocorrer pelo menos três vezes por semana e já deve estar ocorrendo há seis meses para ser caracterizada como insônia.

Segundo estudos, as mulheres são as que mais sofrem com esse problema. "Principalmente no período peri-menopausa (que engloba a pré-menopausa até um ano após a menopausa) e na menopausa. Socialmente e psicologicamente a mulher é mais dividida, mais sobrecarregada", justifica Rosa. "Homens ou mulheres, ninguém deve achar que dormir mal é normal. É um problema grave de saúde que deve ser tratado. E o médico neurologista é o profissional indicado para resolver esse problema", finaliza.

Boxe 1: DICAS PARA UMA BOA NOITE DE SONO

Confira, na seqüencia, as orientações da Academia Brasileira de Neurologia que devem ser adotadas durante sete dias. De acordo com os especialistas, somente após quatro semanas a pessoa notará resultados mais significativos. "Esses hábitos devem ser utilizados todos os dias, formando uma rotina. E mesmo que a pessoa sinta dificuldades, deve insistir", enfatiza Prado.

1 - Não vá para a cama sem estar com sono;

2 - Acorde no mesmo horário todas as manhãs, inclusive nos finais de semana:

- Se você sentir que precisa acordar mais tarde aos sábados e domingos, que seja apenas uma hora a mais;

3 - Não faça cochilos;

4 - Não consuma bebidas alcoólicas durante o período de quatro horas antes de ir para a cama;

5 - Não consuma cafeína após as 16 horas, ou no período de seis horas antes de se deitar;

- Informe-se sobre bebidas, alimentos e medicações que contenham cafeína;

6 - Não fume durante muitas horas antes de ir para a cama;

7 - Faça exercícios regularmente;

- O melhor horário para praticar atividades físicas é no final da tarde ou de manhã. Evite esforços físicos após as 18 horas;

8 - Use o senso comum para fazer seu ambiente apropriado para o sono. A temperatura deve ser adequada, mínimo possível de som, barulho e luz;

9 - Se você está acostumado, faça um lanche leve antes de dormir (bolachas salgadas, leite, queijo branco);

- Não coma chocolate ou coisas com muito açúcar;

- Evite muito líquido;

- Se acordar no meio da noite, não coma. Senão começará a acordar sempre no mesmo horário com fome;

10 - Não use sua cama ou quarto para outra atividade que não seja dormir ((a única exceção a essa regra é a atividade sexual);

- Você não deve ver TV, ler, conversar ao telefone nem se preocupar, discutir com seu cônjuge ou comer na cama;

11 - Estabeleça uma rotina para ir para a cama como sinal para dormir;

- Escove os dentes, acerte o despertador e faça coisas compatíveis com o horário;

- Realize essas atividades na mesma ordem todas as noites;

- Use sua posição de dormir preferida em combinação com seu travesseiro e seu cobertor prediletos;

12 - Quando estiver na cama, apague as luzes com a intenção de adormecer logo. Se você não consegue dormir em pouco tempo (10 minutos), levante da cama e vá para outro cômodo;

- Faça alguma atividade tranqüila até começar a sentir sono de novo e então retorne ao quarto para dormir;

13 - Se você não adormecer rapidamente, repita a instrução anterior;

- Repita esse processo quantas vezes for necessário durante a noite;

- Use esse mesmo procedimento se você acordar no meio da noite e não conseguir voltar a dormir rapidamente;

Boxe 2: HIGIENE DO SONO PARA CRIANÇAS

1 - Mantenha uma rotina para os cochilos diurnos das crianças pequenas;

- Evite cochilos no final da tarde;

2 - Crie uma rotina para a hora de dormir da qual faça parte um momento bom com os pais (ler histórias, ouvir música, etc);

3 - Evitar bebidas (chocolate, refrigerante e chá mate) e medicações que contenham produtos estimulantes;

4 - Crie um ambiente que leve ao sono e recompense as noites bem dormidas;

5 - Mantenha o mesmo horário para os pequenos dormirem e acordarem todos os dias;

6 - Coloque a criança na cama ainda acordada;

7 - Tente não deixá-la adormecer tomando leite, assistindo TV ou em outro lugar que não seja a sua própria cama;

8 - Não alimente a criança durante a noite;

9 - Evite levá-la para a cama dos pais para dormir ou acalmar-se;

10 - Se a criança acordar durante a noite para ir ao banheiro ou por causa de pesadelos, fique no quarto dela até acalmar-se e avise-a de voltará para seu quarto quando ela adormecer;

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Convite