segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Chave geral das sinapses

25/9/2008
Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores identificou pela primeira vez uma “chave geral” de células cerebrais capaz de orquestrar a formação e manutenção de sinapses inibitórias, essenciais para o bom funcionamento do cérebro.

O fator, batizado de Npas4, regula mais de 200 genes que agem de várias maneiras para acalmar células superexcitadas, restaurando um equilíbrio que, acredita-se, é perdido em alguns distúrbios neurológicos. A descoberta, realizada por pesquisadores do Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos, foi descrita na edição desta quinta-feira (25/9) da revista Nature.
As sinapses – conexões entre as células cerebrais – podem ter natureza excitatória ou inibitória. No nascimento, com o rápido desenvolvimento do cérebro, as excitatórias são abundantes, tendendo a fazer as células nervosas estimularem suas vizinhas.

Mas, se a excitação eventualmente não for equilibrada, ela pode levar à epilepsia. Doenças como o autismo e a esquizofrenia têm sido também associadas a um desequilíbrio entre excitação e inibição.

A criação de conexões inibitórias também é necessária para desencadear períodos críticos, como as fases de aprendizagem rápida durante a primeira infância e a adolescência, quando o cérebro tem mais plasticidade – isto é, mais habilidade para modificar sua própria organização estrutural e funcionamento.

O Npas4 é um fator de transcrição, ou seja, funciona como um “interruptor” que ativa ou reprime outros genes. Os pesquisadores, liderados pelo diretor do Programa de Neurobiologia do Hospital Infantil de Boston, Michael Greenberg, demonstraram que a atividade de cerca de 270 genes muda quando a atividade do Npas4 é bloqueada em uma célula. E demonstraram que a ativação do fator está associada ao aumento do número de sinapses inibitórias na superfície das células.

A equipe mostrou que o Npas4 é ativado pela atividade sináptica excitatória. “O programa disparado pela excitação diz: ‘esta célula está ficando excitada, precisamos equilibrar com inibição’”, explicou Greenberg, que atualmente lidera o Departamento de Neurobiologia da Escola Médica de Harvard.

Os pesquisadores estudaram camundongos com falta de Npas4 e descobriram evidência de problemas neurológicos. Os camundongos pareciam ansiosos e hiperativos e ficaram propensos a crises convulsivas.

Greenberg e sua equipe estão atualmente tentando aprender mais sobre a ampla variedade de genes regulados pelo Npas4, já que cada um deles pode fornecer pistas sobre o desenvolvimento das sinapses e revelar novas possibilidades de tratamento para distúrbios neurológicos.
“Se tivermos acesso a um fator de transcrição como o Npas4, com as novas tecnologias da genômica poderíamos essencialmente identificar cada alvo do fator de transcrição”, disse Greenberg. Um desses alvos é o fator neurotrófico (BDNF), que, de acordo com estudos anteriores da mesma equipe, regula a maturação e a função de sinapses inibidoras.

O artigo Activity-dependent regulation of GABAergic synapse development by Npas4, de Yingxi Lin e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Antiinflamatórios podem prejudicar detecção de câncer de próstata

Época: 08/09/2008 - 15:49 - Atualizado em 08/09/2008 - 15:51

Um estudo americano sugere que o uso regular de antiinflamatórios do tipo não-esteróide, como aspirina e ibuprofeno, pode reduzir os níveis de PSA no sangue e dificultar a detecção da doença, uma vez que a concentração dessa substância determina o diagnóstico. Em breve os médicos poderão recomendar que os homens deixem de tomar esses remédios algum tempo antes de fazer os exames.
Cristiane Segatto

De todos os exames usados para detectar o câncer de próstata precocemente, um dos mais importantes é o PSA (antígeno específico da próstata). Com um simples exame de sangue, os médicos checam a quantidade dessa substância no organismo. Quando os níveis dela estão elevados, é bastante provável que um tumor maligno esteja se formando na próstata.

Um novo estudo lança um alerta sobre os cuidados necessários antes da realização desse exame. A pesquisa sugere que o uso regular de antiinflamatórios do tipo não-esteróides, como aspirina e ibuprofeno, pode reduzir os níveis de PSA no sangue. Os remédios parecem mascarar a quantidade do antígeno e, com isso, prejudicar a detecção precoce do câncer de próstata.

O estudo será um dos destaques da edição de outubro da revista científica Cancer, uma publicação da Sociedade Americana do Câncer. Os pesquisadores analisaram os níveis de PSA de 1,3 mil homens acima de 40 anos. Descobriram que as concentrações eram 10% mais baixas entre os consumidores de antiinflamatórios.

Considerando a quantidade de pessoas que tomam antiinflamatórios e o uso corriqueiro dos testes de PSA, é possível que o estudo tenha impacto sobre a vida prática. Em breve os médicos podem começar a recomendar que os homens deixem de tomar os antiinflamatórios algum tempo antes de fazer os exames.

Acupuntura deve ser utilizada como última alternativa, alerta médico

Mylena Fiori
Enviada especial Agência Brasil

Pequim (China) - A acupuntura equivale na medicina chinesa às cirurgias na medicina moderna ocidental. Deve ser utilizada como última alternativa. Os tratamentos da medicina chinesa são muito mais abrangentes e começam pela adoção de hábitos saudáveis e alimentação adequada.

Antes de mais nada, é preciso fazer o diagnóstico. Segundo o médico brasileiro radicado na China Ahmed El Tassa, isso é feito com base nos cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água.

A madeira, por exemplo, está relacionada ao fígado, que por sua vez está relacionado com as emoções em geral, mais especificamente com a raiva. No que se refere aos tipos de doença, a madeira tem a ver com as infecções.

“Há uma interação entre os cinco elementos. Não se pode deduzir qual o problema que a pessoa tem por um só sintoma. É preciso fazer o histórico da pessoa, examiná-la e ver seu tipo de personalidade”, explica.

Feito o diagnóstico, a primeira etapa é a prescrição de pratos curativos. A dieta é determinada pela nutrição tradicional chinesa. Em alguns casos, é suficiente. Noutros, ajuda no tratamento que pode incluir, ainda, diferentes tipos e técnicas de massagens, medicamentos e acupuntura (agulhas aplicadas em determinados pontos do corpo para fazer a ligação energética do organismo com o universo).

Além disso, Tassa recomenda a todos ingestão de 2,5 litros de água por dia, atividade física diária e horários regulares para as refeições. Nunca jantar depois das 19h, de preferência entre as 17h e as 18h.

Pode-se sentir os resultados já a partir do segundo dia, dependendo do problema, da gravidade, do tratamento e da sensibilidade do paciente, assegura o médico.

Ele reconhece, no entanto, que a medicina tradicional chinesa tem muito pouco a oferecer em casos de grande gravidade. Nesses casos, o melhor mesmo é partir para a medicina ocidental convencional.

Comida viva (Globo Repórter)





Reportagem: Ismar Madeira (Campos do Jordão, São Paulo)

Prato do dia: verduras, legumes, frutas e sementes germinadas. É a comida viva!

"Eu tomava remédio para pressão e não tomo mais. Emagreci dez quilos com uma alimentação natural que qualquer um pode fazer em casa", conta o aposentado Orlando Asse dos Santos.

Não é milagre. É o resultado da orientação médica, que seu Orlando recebeu em um posto de saúde de Campos do Jordão, em São Paulo. Tudo de graça, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi com o médico Alberto Gonzalez, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que ele e muitos outros pacientes começaram a aprender que comida é remédio.

"Há influências bastante claras na obesidade, na constipação, na inflamação crônica, na dislipidemia – que é o desequilíbrio do colesterol –, nas doenças gastrointestinais e respiratórias e no diabetes", aponta Alberto Gonzalez.

Mas, afinal, o que é comida viva? A receita é simples: nada pode ser cozido, frito ou assado. Os alimentos são de origem vegetal. E para começar bem o dia, um suco poderoso.

Se uma pessoa que não tem uma doença diagnosticada nem se sente mal resolver experimentar esse alimento vivo, que resultados vai sentir?

"É muito importante que eu, me apresentando como médico, diga que alimento vivo é bom para quem está doente, mas o alimento vivo é uma alimentação para quem está sadio e quer se manter sadio", esclarece Alberto Gonzalez.

Decidi experimentar. Em dez dias, que resultados eu veria?

"Em dez dias, vai haver uma grande liberação de água do seu corpo. Muita água retida vai ser eliminada. Você também vai notar mudanças no âmbito da digestão e da disposição, principalmente após as refeições, Você vai se sentir muito bem disposto", adiantou Alberto Gonzalez.

Doutor Alberto troca o jaleco pelo avental. Hora de arregaçar as mangas e mostrar como se prepara o suco. "O grande equipamento é um liquidificador. Depois de tudo lavado, você começa a fazer o suco. Primeiro, picota o pepino. O pepino vai para perto da hélice, porque ele é um grande gerador de água. Aí vem a maçã. Vamos extrair a água do pepino, da maçã e das verduras orgânicas disponíveis com uma cenoura. E, finalmente, as sementes de girassol germinadas. Você pode usar só trigo, girassol, quinoa, gergelim, amêndoa. O ideal é a semente germinada”, ensina Alberto Gonzalez.

Este é o grande segredo da comida viva: grãos germinados. E se você já está se perguntando como vai fazer para conseguir essas sementes, não se preocupe.

"Em seguida, coamos. Fica uma massa consistente. É um coador de voal, que qualquer um pode ter. As pessoas com mais recursos usam uma centrífuga. É o café da manhã. É bom que seja um copo grande. Tem pão, manteiga, café e leite, só que em forma natural, viva e repleta de nutrientes vivos", ressalta Alberto Gonzalez.

Não é um suco ralinho, parece um leite ou algo muito cremoso. É em um casarão que doutor Alberto Gonzalez ensina receitas de alimentos vivos. Alguns pacientes são encaminhados para o local e aprendem que, além do suco, podem fazer pratos coloridos e saudáveis, como a caldeirada de frutos do mato.

Legumes ralados, picadinhos. Basta prensar os alimentos, uma técnica feita com as mãos, para controlar a temperatura da panela. Afinal, nos chamados alimentos vivos, legumes e verduras não podem ser cozidos.

"Se começar a queimar as mãos, tem que desligar. Se não queimar a mão, não vai queimar os alimentos também", explica uma funcionária do hospital.

“A carne é uma questão de herança cultural. Eu não vou chegar em uma aldeia de pescadores e dizer: parem de comer peixe. Comam o peixe, mas incluam na sua vida os alimentos que vêm da mãe terra. Porque eles vêm com a informação que você precisa", diz Alberto Gonzalez.

"Não posso dizer que sou vegetariano. Uma vez por mês eu não recuso um churrasquinho, mas também não sou escravo da alimentação. Como tudo que eu gosto, com uma certa regra", conta seu Orlando.

"Sempre digo que tudo que é verde faz bem para o que é vermelho. Quem está com doença cardiovascular volte-se para o reino vegetal. Alimente-se de tudo que é verde possível que a recuperação cardiovascular vem a reboque", aconselha Alberto Gonzalez.

Em casa, seu Orlando segue a orientação diariamente e faz questão de plantar suas verduras: "Eu aproveito qualquer cantinho. Uma jardineirinha da loja de R$ 1,99, um pouquinho de terra e brota um trigo bonito".

A grama de trigo usada no suco nasce de sementes comuns compradas no supermercado e simplesmente jogadas por seu Orlando na terra. "Todos os espaços, o quintal do vizinho, por exemplo, eu coloquei trigo há 15 dias e já está nascendo. Temos couve e outras hortaliças espalhadas no meio da vegetação. Uso de sete a oito qualidades para fazer o suco por dia", conta.

Será que é mesmo tão fácil assim? Nos dez dias em que testamos o suco também experimentamos a preparação dele, até em cozinhas de hotel. Se eu consegui, qualquer um consegue.

Mas, antes, é bom lembrar: estávamos no restaurante de um hotel na cidade turística de Campos do Jordão, e as tentações estavam servidas. Eram 9h. Eu jantei no dia anterior, às 20h30. Ou seja, havia mais de 12 horas. O estômago já estava reclamando. A mesa do café da manhã era farta. Em vez de optar por tudo o que eu normalmente comeria, fiquei só com as frutas e o suco verde.

Logo pegamos a estrada. Acompanhamos doutor Alberto Gonzalez até a casa de um paciente. A viola dá o tom. O lavrador Benedito Vicente da Rosa leva uma vida simples. Mora com a mulher no alto de uma colina, em um lugar onde não tem luz elétrica. Mas sobram ar puro e produtos tirados da terra sem agrotóxicos. Faltava saber como aproveitar todos os seus nutrientes. Foi o que seu Benedito aprendeu nas consultas pelo SUS. Visitas periódicas fazem parte do Programa de Saúde da Família.

Há um ano, o lavrador mal conseguia ir ao posto de saúde, por causa de uma trombose na perna esquerda, uma ferida enorme não cicatrizava.

"Estava muito machucado, era uma ferida só. Tinha um roxo que parecia uma lesão só. Tomei o suco e fechou tudinho, foi uma beleza. Eu já estava até desenganado", comemora o lavrador.

Doutor Alberto Gonzalez explica: "Os vasos da perna dele não chegavam até a intimidade do tecido, por conta do problema vascular. O suco promoveu o fenômeno denominado neovascularização, de crescer novos capilares onde não tinha".

Mas o médico alerta: "Se você está usando remédios e quer mudar para o suco, consulte um profissional médico. A pessoa que tem um problema grave de pressão arterial ou problema grave de perfusão sanguínea do próprio coração não pode parar de tomar o remédio. Eu trabalho usando remédios e o suco. Os remédios vão sendo tirados à medida que os resultados com o suco vão aparecendo. E isso depende da adesão do paciente".

Seu Benedito se empenhou de verdade para ver o resultado. Afinal, o que já seria difícil na cidade grande poderia até ser impossível para quem vive sem energia elétrica – sem um liquidificador.

"Tentei socar no pilão, mas espirrou muito. Tive que inventar outro modo. Daí, foi no ralador. Achei que foi importante", diz seu Benedito, que colhe os ingredientes, rala e espreme tudo com as mãos. "É um verdadeiro remédio. A perna sarou que é uma beleza! Não tem mais nada, está forte. Já estou imaginando até jogar bola. Eu gostava muito de jogar bola. Fazer isso todo dia é difícil, mas sem esforço ninguém consegue nada".

A germinação dos grãos é que dá força ao alimento, potencializa os nutrientes. É o que garante a mais antiga pesquisadora da comida viva no Brasil, a designer e professora Ana Branco, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). A primeira semente foi ela que plantou. Há 15 anos, Ana Branco reúne conhecimentos que ela passa adiante.

Preste atenção: é o passo-a-passo para você também aprender a germinar as sementes na sua casa.

"Colocamos a semente de girassol de molho na água. Vamos dormir e a semente vai acordar. São oito horas de molho na água. É o tempo de dormirmos e ela acordar. Na manhã do dia seguinte, jogamos a água fora e deixamos escorrendo em algum apoio por mais oito horas. Depois de oito horas de molho na água e oito horas no ar, é só darmos uma lavadinha antes de consumirmos. Podemos olhar o que aconteceu com a semente germinada. Dá para ver o narizinho que está nascendo. Nesse ponto, podemos consumir. Assim, comemos a energia vital contida nela. E ficamos forte que nem ela", diz Ana Branco.

Para ela, uma filosofia de vida que germinou e deu frutos. Muitos já aprenderam os segredos da alimentação viva em cursos e em uma feira na PUC-RJ.

"Nós começamos com o suco quando eu estava grávida da minha terceira filha. Meu marido faz o suco, fazemos para a família toda. Isso já acontece há três anos", conta a professora Rosana Cunha Pinto. "O grande barato é chamar as crianças para fazerem junto com você. Pede para uma pegar uma maçã, pede para outra segurar uma hortelã. E assim a gente vai cortando e preparando o alimento junto".

Eu bebi suco durante dez dias. E não foi difícil, mesmo fora de casa, dormindo em hotéis, comendo em restaurantes. Logo no primeiro dia, eu fiz exames de sangue que mostraram que a minha saúde vai muito bem. Taxas como colesterol e glicose, por exemplo, estão ótimas. E, por causa disso, eu resolvi não mudar mais nada na minha alimentação. No almoço e no jantar, continuei comendo o que estou acostumado e gosto: arroz, feijão, carne.

Mesmo assim, substituindo só café da manhã, o suco fez efeito. Perdi 2,1 quilos. Eu também senti outras mudanças que não podem ser medidas. A primeira: comecei a sentir menos fome nos últimos dias. E a segunda: mudança no apetite. Já não tenho tido mais tanta vontade de comidas pesadas. Pode ser resultado do suco.

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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Paradoxo nutricional

25/8/2008

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – O Brasil vive uma transição nutricional paradoxal. Um estudo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública revela a prevalência crescente tanto de anemias como de obesidade no país. A pesquisa, que analisou trabalhos realizados nas últimas três décadas, aponta que essa tendência estaria associada a mudanças no consumo alimentar.

A pesquisa analisou 28 trabalhos publicados sobre anemia em crianças e mulheres em idade reprodutiva, considerando a representatividade estatística, padronização de técnicas laboratoriais e critérios recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para o estudo do sobrepeso e obesidade, o trabalho avaliou o Índice de Massa Corporal (IMC).

Participaram do trabalho pesquisadores do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (Imip) e do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz em Recife.

De acordo com Malaquias Batista Filho, do Imip, o estudo procurou se afastar do paradigma usado na maior parte das pesquisas, cuja referência é o enfoque isolado dos diagnósticos, particularmente no caso das doenças nutricionais, que são analisadas como “entidades próprias e autônomas”.

“A idéia foi juntar os dados em uma série cronológica desde 1974 para verificar se eles apontavam alguma tendência. Há três estudos que foram feitos com a mesma população em momentos diferentes, por isso são mais adequados a análise de tendências temporais. Os resultados revelam que, a cada década em que o exame foi feito, a desnutrição regrediu e a obesidade evoluiu”, disse Batista Filho à Agência FAPESP.

Embora o país venha superando o problema da fome, a nova pesquisa aponta as anemias como um problema em ascensão. Um dos estudos anteriores feito no município de São Paulo, cujos dados foram utilizados, foi o caso mais representativo: a prevalência do problema das anemias aumentou de 22% para 46,9% nas duas últimas décadas, entre as crianças menores de 5 anos.

Os outros dois trabalhos se referem aos estados da Paraíba e de Pernambuco, cuja tendência é de aumento das anemias em 10% a cada dez anos.

Batista Filho, que também é professor aposentado do Departamento de Nutrição da UFPE, ressalta que o problema da anemia não é exclusivo dos países subdesenvolvidos. A Europa tinha, segundo ressaltou, 20 milhões de pessoas anêmicas há uma década.

“Trata-se de um problema que foi progredindo na surdina, sem muitas denúncias. Hoje existem estimativas de que dois terços da população mundial podem ter anemia. Houve redução nas formas mais graves, mas houve ampliação em relação às formas leves e moderadas de anemia”, acrescentou.

Leite demais

Segundo Batista Filho, uma certa mitificação do leite na alimentação humana tem relação com o avanço da anemia. “O leite é muito importante na alimentação, mas ainda assim não pode ser considerado um alimento que necessariamente deve fazer parte da dieta para que exista condição para saúde normal. Ele não é rico em ferro e inibe o aproveitamento de ferro de outros alimentos. No estudo feito em São Paulo, verifica-se que, em grande parte, o leite está sendo co-responsável pela ocorrência de anemia em crianças”, disse.

As grandes mudanças na situação nutricional da população adulta resultaram, segundo a nova pesquisa, em um aumento do sobrepeso e obesidade. Em relação à evolução do estado nutricional, segundo o IMC, foi identificado um declínio no baixo peso e uma estabilização em níveis aceitáveis a partir de 1989, enquanto a obesidade triplicou em homens, elevando-se de 2,8% para 8,8%.

Entre as mulheres, a ocorrência de obesidade, que, inicialmente, era três vezes maior do que em homens, manteve-se praticamente estável em torno de 13% nas avaliações efetuadas em 1989 e 2003. No mesmo período, a prevalência de normalidade antropométrica, que era de 71,4% entre os homens em 1974, caiu para 47,4% na última avaliação. Entre as mulheres, a prevalência da normalidade antropométrica, segundo o IMC, declinou de 53,4% para 42,7%.

De acordo com Batista Filho, o novo paradigma nutricional gera a necessidade de se avançar para além dos problemas relacionados à fome. “Agora temos que pensar nos aspectos qualitativos da alimentação e não simplesmente compensá-la com calorias. Alimentação saudável não se reduz ao problema da fome, mas tem relação com vários outros aspectos nutricionais e de saúde.”

“Temos de retirar um pouco do centro da discussão a questão da fome em si, e colocar agora um tema bem mais amplo, que seria o da alimentação saudável para todos os ciclos de vida. Hoje, inclusive, se percebe que quando estamos cuidando da alimentação da criança estamos cuidando do escolar, da gestante, do trabalhador e das populações idosas do futuro”, reforçou.

Para ler o artigo Anemia e obesidade: um paradoxo da transição nutricional brasileira, de Malaquias Batista Filho e outros, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.