terça-feira, 16 de dezembro de 2008

OMS aponta as principais causas de morte


Sandra Pereira
Em todas as regiões do planeta, os homens de 15 a 60 anos correm maior risco de morte do que as mulheres na mesma faixa etária, apontou a OMS (Organização Mundial da Saúde), no relatório 'O estado da saúde mundial', lançado no dia 4 de outubro. As razões para a diferença na mortalidade entre os sexos estariam nos problemas cardíacos, de que os homens são as maiores vítimas, e na violência e conflitos sociais, sobretudo na América Latina, Oriente Médio e Europa oriental. O relatório, divulgado a cada cinco anos, traz informações sobre os 193 países-membros da OMS.

De acordo com a organização, as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no mundo, superando aids e tuberculose. No entanto, as infecções respiratórias matam mais nos países pobres, onde a malária também aparece com 3,3% do total de mortes. No bloco das nações mais ricas, a aterosclerose coronariana e o AVC são as principais causas de óbitos, seguidas de diferentes formas de câncer. Na África, a Aids continua ocupando o primeiro lugar no ranking das causas de mortes entre os adultos. Já os europeus dessa faixa etária morrem mais de doenças cardiovasculares e ferimentos.

O documento calcula que anualmente 10,4 milhões de crianças morrem no mundo, metade delas na África. Mas os dados variam muito quando analisados por região e escala de desigualdade. Na África, metade da população morre antes de completar 16 anos. Já nos países ricos, apenas 1% das mortes envolve jovens, porque a maior mortalidade é entre pessoas com mais de 60 anos.

A OMS informa ainda que, em 2004, ano de referência do relatório, 2 milhões de pessoas morreram de aids. O número deve atingir 2,4 milhões em 2012, mas, segundo a organização, as campanhas, o acesso a medicamentos e os programas de ajuda podem mudar essa tendência. No momento atual, a aids já não aparece entre as dez maiores causas de morte nos países ricos. Nos países mais pobres, o HIV ainda é a quarta maior causa de óbitos. No entanto, a organização revela que as mortes vinculadas à aids cairão para décimo lugar até 2030. Em contrapartida, as mortes por acidentes de automóveis com vítimas fatais vão aumentar de 1,3 milhão para 2,4 milhões e passarão a ser o quinto maior responsável por mortes no mundo.

Outro fator importante será o envelhecimento das populações, resultante do desenvolvimento econômico, afirma o estudo. O número de mortes por câncer vai aumentar e as doenças não-transmissíveis serão responsáveis por 75% das mortes no mundo. O câncer passará de 7,4 milhões de vítimas em 2004 para 11,8 milhões em 2030.

A violência também é identificada pelo relatório como fator que afeta a saúde da população, em especial na América Latina, em função do crescimento das mortes e traumas decorrentes dos conflitos sociais.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Selênio: essencial nofuncionamento da tireóide

Por Glaucia Duarte - Endocrinologia e metabologia
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O selênio é importante na nutrição humana e animal. Está presente em uma enzima antioxidante (glutationa peroxidase), que atua impedindo a formação excessiva de radicais livres e no controle de processos envolvendo estresse orgânico. Também é necessário na tireóide, atuando na conversão do hormônio T4 em sua forma mais ativa, T3. A ingestão recomendada a um adulto é de 55 a 70 mcg (microgramas) e as principais fontes nutricionais onde ele está presente são a castanha-do-Pará (que contém 120 mcg em apenas uma unidade), nos frutos do mar, aves e carnes vermelhas, além de nos grãos de aveia e no arroz integral.

Sua deficiência pode causar dores e sensibilidade muscular, alterações no pâncreas e, estudos relatam, maior suscetibilidade em alguns casos de câncer. Seu excesso, em contrapartida, provoca fadiga muscular, alterações vasculares, queda de cabelo, unhas fracas, alterações no esmalte dos dentes, dermatites e vômito.

Devido à sua ação no sistema imunológico, combatendo os danos causados pelo excesso de oxidação, o selênio está associado à modulação de processos inflamatórios, como a tiroidite pós-parto.

É uma doença caracterizada pelo hipertiroidismo seguida de hipotireoidismo, ambos transitórios ou permanentes. Ocorre em 5 a 9% das puérperas em até 12 meses pós-parto e é mais comum em mulheres já predispostas a desenvolver a doença, ou seja, que já tinham os anticorpos antitireodianos pré-existentes e, durante a gravidez, pelo aumento dos títulos destes auto-anticorpos, terminam com um distúrbio auto-imune precipitado por alterações imunológicas do puerpério.

Pesquisas mostram a persistência do hipotireoidismo em 20 a 30% dos casos. Em um estudo, realizado por Negro et al, 77 mulheres com anticorpos antitireoidianos foram suplementadas, durante e após a gestação, com 200 mcg de selênio ao dia.

A prevalência de tiroidite pós-parto foi menor naquelas que usaram a suplementação (28,6%) quando comparadas às que não suplementaram (48,6%). O autor concluiu que os resultados são promissores, mas ainda não se deve generalizar a suplementação como consenso a todas as gestantes, deverá ser uma indicação futura àquelas com sinais de tiroidite.

Mas, o que deve, sim, ser uma prática, é a dosagem de hormônios na gestação e no puerpério, fazendo um rastreamento preventivo da tiroidite pós-parto.

Dra. Glaucia Duarte é médica endocrinologista, doutorada em Endocrinologia e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), da Sociedade Latino Americana de Tireóide e do ICCIDD (International Council for the Control of Iodine Deficiency).

Para saber mais, acesse: http://draglauciaduarte.wordpress.com

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Estudo aponta que doenças do aparelho circulatório são as que mais matam no Brasil

da Agência Brasil

Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira pelo Ministério da Saúde aponta que as chamadas doenças da modernidade são as que mais matam homens e mulheres no Brasil. A publicação "Saúde Brasil 2007" revela crescimento no número de mortes provocadas por doenças crônicas e violentas. As doenças do aparelho circulatório --associadas à má alimentação, ao consumo excessivo de álcool, ao tabagismo e à falta de atividade física-- lideram o ranking.

De acordo com o estudo, 283.927 pessoas morreram em 2005 por problemas do aparelho circulatório --32,2% do total de mortes registrado no ano.

No levantamento por regiões, as doenças do aparelho circulatório também são as que mais matam, com taxas de 33% no Sudeste, 32,9% no Sul, 31,9% no Nordeste, 31% no Centro-Oeste e 24,9% no Norte.

O perfil de mortalidade, segundo o ministério, revela mudanças provocadas, por exemplo, pela urbanização rápida. No passado, doenças infecciosas e parasitárias como as diarréias, a tuberculose e a malária estavam entre as principais causas de morte no país.

Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde indicam que, em 1930, as doenças infecciosas respondiam por cerca de 46% das mortes nas capitais brasileiras enquanto em 2003, tais doenças representavam apenas 5% do total de óbitos. Já as doenças cardiovasculares --que respondiam por apenas 12% na década de 30-- são apontadas pela pesquisa como as principais causas de morte em todas as regiões do país, responsáveis por quase um terço das mortes.

Ao detalhar as causas específicas, o levantamento indica que o AVC (Acidente Vascular Cerebral) é o que mais mata --em 2005, foram mais de 90 mil. O número representa 31,7% das mortes decorrentes de problemas circulatórios e 10% do total de óbitos no país.

A segunda maior causa específica, de acordo com o ministério, é a Doença Isquêmica do Coração, com destaque para o infarto que, em 2005, matou 84.945 pessoas --9,4% do total de mortes do país.

Os dados utilizados na publicação foram coletados no SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) do Ministério da Saúde, que capta os óbitos ocorridos no país dentro ou fora de ambiente hospitalar e com ou sem assistência médica. De acordo com o ministério, a tendência de morte não varia muito em um curto período de tempo e as informações refletem a atual situação da mortalidade no país.

Em 2005, o SIM captou 1.006.827 óbitos em todo o país --um coeficiente de 5,5 mortes por mil habitantes. A base populacional utilizada foi a estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o ano de 2005 --184.184.074 habitantes.

Pesquisadores afirmam que a alga Chlorella reduz a gordura corporal, colesterol total e os níveis de glucose no sangue

Por Henrique Cortez, do EcoDebate.

Journal of Medicinal Food, Volume 11, Number 3
Journal of Medicinal Food, Volume 11, Number 3

Pesquisadores investigaram os efeitos da alga Chlorella em pessoas com fatores de risco para doenças decorrentes do modo e estilo de vida, concluindo que seus efeitos podem ser muito positivos. Na edição de setembro do Journal of Medicinal Food, pesquisadores de Kyoto, Japão, conduziram a pesquisa controlando, por testes bioquimicos, os efeitos da administração da chlorella nos pacientes pesquisados e confirmaram a redução dos percentuais de gordura corporal, colesterom total e níveis de glucose no sangue.

O estudo “Nutrigenomic Studies of Effects of Chlorella on Subjects with High-Risk Factors for Lifestyle-Related Disease” foi publicado no Journal of Medicinal Food, Volume 11, Number 3.

Abaixo transcrevemos o abstract e informações adicionais da Wikipédia.

Nota do EcoDebate: a auto-medicação pode ser extremamente prejudicial e deve ser evitada. Se os resultados desta pesquisa forem de interesse para sua saúde, consulte o seu médico e discuta a alternativa. A prescrição de qualquer medicamento, alopata, homeopata ou fitoterápico somente pode ser avaliada por um profissional qualificado, treinado para considerar e poderar as indicações, contra-indicações, efeitos colaterais e, eventualmente, os fatores de risco.

Nutrigenomic Studies of Effects of Chlorella on Subjects with High-Risk Factors for Lifestyle-Related Disease
Toru Mizoguchi, Isao Takehara, Tohru Masuzawa, Toshiro Saito, Yo Naoki. Journal of Medicinal Food. September 1, 2008, 11(3): 395-404. doi:10.1089/jmf.2006.0180.

Toru Mizoguchi
Sun Chlorella Corporation, Kyoto, Saitama, Japan

Isao Takehara
New Drug Development Research Center, Inc., Hokkaido, Saitama, Japan

Tohru Masuzawa
New Drug Development Research Center, Inc., Hokkaido, Saitama, Japan

Toshiro Saito
Life Science Group, Hitachi, Ltd., Saitama, Japan

Yo Naoki
Sun Chlorella Corporation, Kyoto, Saitama, Japan

ABSTRACT

In order to clarify the physiological effects of Chlorella intake on subjects with high-risk factors for lifestyle-related diseases, we conducted Chlorella ingestion tests on 17 subjects with high-risk factors for lifestyle-related diseases and 17 healthy subjects over a 16-week period, including a 4-week post-observation period. We conducted blood biochemical tests and analyzed gene expression profile in whole blood cells in the peripheral blood before and after Chlorella intake. We confirmed that in both groups, Chlorella intake resulted in noticeable reductions in body fat percentage, serum total cholesterol, and fasting blood glucose levels. Through gene expression analysis, we found that gene expression profiles varied with Chlorella intake and identified many genes that exhibited behavior such that after the completion of the intake period, expression levels returned to pre-intake expression ones. Among these were genes related to signal transduction molecules, metabolic enzymes, receptors, transporters, and cytokines. A difference in expression level was found between the two groups at the start of the tests, and we were able to identify genes with noticeable variance in expression level resulting from Chlorella intake in the high-risk factor group. These included genes involved in fat metabolism and insulin signaling pathways, which suggests that these pathways could be physiologically affected by Chlorella intake. There were clear variations in the expression profiles of genes directly related to uptake of glucose resulting from Chlorella intake, indicating that the activation of insulin signaling pathways could be the reason for the hypoglycemic effects of Chlorella.

Informações adicionais sobre a Chlorella na Wikipédia

Chlorella é um gênero de algas verdes unicelulares, do Filo Chlorophyta. De forma esférica, cerca de 2-10 ?m de diâmetro, sem flagelo. Chlorella contém os pigmentos verdes fotossintetizadores clorofila-a e -b em seu cloroplasto. Através da fotossíntese se multiplica rapidamente requerendo só dióxido de carbono, água, luz solar, e pequenas quantidades de minerais, para reproduzir-se.

O none Chlorella provém do grega chloros: verde; e do sufixo diminutivo latino ella: “pequeno”. O bioquímico alemão Otto Heinrich Warburg recibeu o Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina em 1931 por seu estudo da fotossíntese na Chlorella.

Em 1961 Melvin Calvin da Universidade da Califórnia recebeu o Prêmio Nobel de Química por seu estudo sobre os caminhos da assimilação do CO,2 em plantas usando a Chlorella. Em anos recentes, investigadores têm feito uso menor de Chlorella como organismo experimental devido a suas faltas do ciclo de vida biológico e, além disso, o avanço nos estudos da genética.

Muita gente crê que Chlorella pode servir como uma fonte potencial de alimento e de energia devido a sua eficiência fotossintética, que pode alcançar teoricamente a 8 %,[1] que é comparável com outros cultivos altamente eficientes como a cana de açúcar. Também o faz atrativa fonte alimentar por sua alta proporção de proteína e outros nutrientes essenciais ao humano; seco, têm cerca de 45% de proteína, 20% de gorduras, 20% de carboidratos, 5% de fibras, 10% de minerais e vitaminas. Entretanto, devido a ser uma alga unicelular, seu cultivo apresenta enormes dificultades práticas para ser feito em grande escala. Os métodos de produção de biomassa estão començando a ser usados para seu cultivo em grandes depósitos artificiais.

Poluição aumenta alergias em crianças

O pesquisador Joachim Heinrich
Por Henrique Cortez, do EcoDebate.

Exposição regular à poluição atmosférica, proveniente de tráfego, aumenta o risco de que as crianças desenvolvam alergias. Um estudo do infantis risco de desenvolver alergias por mais de 50 por cento, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores do German Research Center for Environment and Health do Institute of Epidemiology, em Munique, e publicado no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, afirma que o risco de desenvolvimento de alergias aumenta em até 50%. “Estamos constantemente encontrando uma forte associação entre a distância até à estrada principal e a evolução das doenças alérgicas”, disse o pesquisador Joachim Heinrich, coordenador do estudo. “Crianças que vivem a menos de 50 metros de uma rua movimentada tiveram uma maior probabilidade de desenvolver sintomas alérgicos, comparadas às crianças que vivem mais distante.”

Há muito é reconhecido que os poluentes atmosféricos podem desencadear reações alérgicas graves e crises de asma, especialmente quando combinados com outros alérgenos, como pólen. Mas o estudo sugere que a exposição à poluição do ar deverá mesmo aumentar o risco das crianças se tornarem alérgicas, mesmo a substâncias não relacionadas à não-poluição.

Os pesquisadores examinaram os registros médicos de quase 2.900 crianças de 4 anos de idade e mais de 3.000 de seis anos de idade, que vivem em Munique, para diagnósticos de alergia ou asma. Eles então registraram a distância do domicílio da criança a partir de grandes eixos rodoviários, à época do nascimento e aos 2, 3 e 6 anos de idade.

Os pesquisadores também analisaram o teor de poluentes do ar em diferentes partes da cidade, com um enfoque sobre o que se crê serem os dois mais perigosos poluentes: dióxido de ozônio e partículas em suspensão.

Eles descobriram que o risco de desenvolver alergias aumentou de forma constante em uma criança que vivia mais perto de uma estrada principal, para um total de 50% maior de risco para uma para crianças que vivesse dentro de 50 metros de uma rua movimentada.

“[As crianças] que vivem muito perto de uma estrada principal são susceptíveis de serem expostas não só a uma maior quantidade de partículas e gases derivados de tráfego, mas também para uma emissão de aerossóis, que podem ser mais tóxicos”, disse Heinrich.

O acesso ao conteúdo integral do artigo é restrito a assinantes da revista, o qual encontra-se no link do artigo. Abaixo transcrevemos o abstract publicado. Para traduzir o texto utilize a barra de ferramentas de idiomas, no topo da matéria, logo abaixo do título e, na caixa de opções, selecione o idioma “Português”.

Atopic Diseases, Allergic Sensitization, and Exposure to Traffic-related Air Pollution in Children
American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine Vol 177. pp. 1331-1337, (2008)

Verena Morgenstern1, Anne Zutavern1,2, Josef Cyrys1,3, Inken Brockow4, Sibylle Koletzko2, Ursula Krämer5, Heidrun Behrendt6, Olf Herbarth7,8, Andrea von Berg9, Carl Peter Bauer4, H.-Erich Wichmann1,10 and Joachim Heinrich1 for the GINI Study Group* and the LISA Study Group*

1 Helmholtz Zentrum München, German Research Center for Environmental Health, Institute of Epidemiology, Munich, Germany; 2 Ludwig-Maximilians University of Munich, Dr. v. Hauner’s Children’s Hospital, Munich, Germany; 3 University Augsburg, WZU–Environmental Science Center, Augsburg, Germany; 4 Technical University Munich, Children’s Hospital, Munich, Germany; 5 Institut für Umweltmedizinische Forschung, Working Area Epidemiology, Düsseldorf, Germany; 6 Technical University Munich, Division of Environmental Dermatology and Allergy, ZAUM–Center for Allergy and Environment, Munich, Germany; 7 UFZ–Human Exposure Research and Epidemiology at the UFZ Leipzig-Halle, Leipzig, Germany; 8 Faculty of Medicine, Environmental Medicine and Environmental Hygiene, University of Leipzig, Leipzig, Germany; 9 Marien-Hospital Wesel, Wesel, Germany; and 10 Ludwig-Maximilians University of Munich, Institute of Medical Data Management, Biometrics and Epidemiology, Munich, Germany

Correspondence and requests for reprints should be addressed to Joachim Heinrich, Ph.D., Helmholtz Zentrum München, German Research Center for Environmental Health, Institute of Epidemiology, Ingolstaedter Landstrasse 1, D-85764 Neuherberg, Germany. E-mail: joachim.heinrich@helmholtz-muenchen.de

Rationale: In vitro studies, animal experiments, and human exposure studies have shown how ambient air pollution increases the risk of atopic diseases. However, results derived from observational studies are inconsistent.

Objectives: To assess the relationship between individual-based exposure to traffic-related air pollutants and allergic disease outcomes in a prospective birth cohort study during the first 6 years of life.

Methods: We studied 2,860 children at the age of 4 years and 3,061 at the age of 6 years to investigate atopic diseases and allergic sensitization. Long-term exposure to particulate matter (PM2.5), PM2.5 absorbance, and long-term exposure to nitrogen dioxide (NO2) was assessed at residential addresses using geographic information systems based regression models and air pollution measurements. The distance to the nearest main road was used as a surrogate for traffic-related air pollutants.

Measurements and Main Results: Strong positive associations were found between the distance to the nearest main road and asthmatic bronchitis, hay fever, eczema, and sensitization. A distance-dependent relationship could be identified, with the highest odds ratios (ORs) for children living less than 50 m from busy streets. For PM2.5 absorbance, statistically significant effects were found for asthmatic bronchitis (OR, 1.56; 95% confidence interval [CI], 1.03–2.37), hay fever (OR, 1.59; 95% CI, 1.11–2.27), and allergic sensitization to pollen (OR, 1.40; 95% CI, 1.20–1.64). NO2 exposure was associated with eczema, whereas no association was found for allergic sensitization.

Conclusions: This study provides strong evidence for increased risk of atopic diseases and allergic sensitization when children are exposed to ambient particulate matter.

Tecnologia agrícola: saúde ou doença? artigo de Gilberto Dupas

agricultura orgânica

Podemos sonhar com uma agricultura orgânica que gere mais saúde que doenças, produzindo comida de boa qualidade?

A ALIMENTAÇÃO humana, contaminada de agrotóxicos e pesticidas e alterada em sua natureza intrínseca pelo processamento radical, está sendo acusada por especialistas de ter sido transformada em uma máquina de fabricar doentes e gerar verdadeiras epidemias contemporâneas, como cânceres e diabetes.

Para complicar mais, para produzir comida exige-se agora que a agricultura dispute as terras disponíveis com os biocombustíveis necessários para mover outra praga global: a frota explosiva de automóveis.

Durante o século 19, as principais preocupações associadas a questões agrícolas e ambientais na Europa e na América do Norte eram o esgotamento da fertilidade das terras, a crescente poluição das cidades e o desflorestamento de continentes inteiros.

Com a exaustão dos fertilizantes naturais, agricultores europeus da época chegaram a invadir as regiões das batalhas de Waterloo e Austerlitz para buscar os ossos das catacumbas e espalhá-los moídos sobre seus campos. O primeiro barco carregado de guano peruano -esterco de aves marinhas- chegou a Liverpool em 1835; em 1847, já se importavam 222 mil toneladas anuais.

Por volta dos anos 1860, Marx havia se convencido da natureza insustentável da agricultura capitalista.

Suas contradições foram muito sentidas nos EUA com o bloqueio do guano peruano pelo monopólio britânico. O Decreto das Guano Islands, aprovado pelo Congresso em 1856, fez os norte-americanos se apossarem de quase 70 ilhas e arrecifes em todo o mundo. Com o esgotamento das reservas peruanas, foi necessário substituir o guano por nitratos chilenos. Essa sucessão de crises impulsionou os grandes avanços na ciência do solo, estimulando a revolução agrícola com a indústria de fertilizantes.

Continuavam, porém, preocupações crescentes com a “exaustão do solo” e o processo de destruição ecológica. Começaram, então, a ser utilizados nitrogênio, fósforo, potássio e os “superfosfatos” sintéticos.

Percebendo essa crise estrutural na fertilidade das terras, Marx acusou a agricultura capitalista de larga escala e a indústria de se unirem para empobrecer o solo e o trabalhador; a grande propriedade fundiária iria reduzindo a população agrícola a um mínimo e surgiria uma crescente população industrial amontoada nas cidades.

Para ele, era uma falha irreparável no processo interdependente do metabolismo social, prescrito pelas leis naturais; o sistema industrial e o amplo comércio aplicados à agricultura debilitariam os trabalhadores e ofereceriam aos produtores meios para exaurir o solo. As condições de sustentabilidade impostas pela natureza haviam sido violadas. Curioso que tal idéia se aproxime da noção atual de desenvolvimento sustentável.

A solução de Marx para essa grave questão era o tratamento racional da terra como propriedade comunal permanente, o que, porém, se mostrou um fracasso quando aplicado nas experiências de socialismo real. Foi a agricultura capitalista de larga escala -apoiada numa poderosa indústria global de agrotóxicos, fertilizantes, pesticidas e produtos químicos avançados- que acabou se impondo globalmente durante a segunda metade do século passado.

De fato, com essas tecnologias e manejos, o grande agronegócio global deu conta da oferta de alimentos básicos para crescentes populações mundiais; mas a qualidade dos produtos alimentares resultantes se degradou. Contaminados por pesticidas, antibióticos, hormônios e resíduos tóxicos, alimentos padronizados e suas cadeias protéicas deixam atrás de si um meio ambiente devastado.

Os transgênicos, última promessa da técnica, são ditos capazes de revolucionar o mundo dos alimentos. Mas seus riscos são omitidos, culturas tradicionais e variedades genéticas são destruídas, a padronização aumenta, a qualidade final é posta em dúvida, os efeitos sobre a saúde causam preocupações e a dependência tecnológica se concentra.

Será que podemos voltar a sonhar com uma agricultura orgânica que gere mais saúde que doenças, produzindo comida natural de boa qualidade, verduras e legumes sem agrotóxicos e não envenene terras cultiváveis e rios? Ou estaremos inevitavelmente condenados à esquizofrenia de uma civilização que alerta cada vez mais sobre o risco dos alimentos contaminados, mas obriga quem quiser ser saudável a procurar produtos orgânicos por mais que o dobro do preço?

GILBERTO DUPAS , economista, é coordenador geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais e autor de “O Mito do Progresso” e “O Incidente”, entre outras obras.

[EcoDebate, 05/11/2008]

Aumenta o número de medicamentos receitados para crianças

o3/11/2008, O Globo

CHICAGO - Cada vez mais crianças estão sendo medicadas para tratar doenças crônicas como asma e hiperatividade, segundo um estudo realizado nos Estados Unidos e publicado nesta segunda-feira na edição de novembro da revista "Pediatrics". Entre 2002 e 2005, as receitas de medicamentos para tratar diabetes 2 dobraram, as de remédio para asma aumentaram mais de 46% , aquelas para tratamentos do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade cresceram 40% e as prescrições de drogas contra o colesterol subiram mais de 15%.

O estudo, baseado em registros de mais de 3,2 milhões de crianças entre 5 e 19 anos, foi realizado pela médica Donna Halloranm, do Instituto de Pesquisa Pediátrica, em Saint Louis, Douglas Mager, do Instituto de Saúde do Kansas, e Emily Cox, da empresa da área farmacêutica Express Scripts, que distribui medicamentos em todo o país.

Apesar de relacionarem o aumento no número de prescrições ao crescimento da incidência de doenças crônicas entre as crianças, os autores afirmam que a tendência pode refletir outros fatores como a maneira como os médicos vêem o uso de remédios em crianças. A equipe acrescentou que os programas federais que incentivam a pesquisa de medicamentos pediátricos geraram dados sobre segurança e eficácia que provavelmente deram aos médicos mais confiança para receitar este tipo de medicamento.

Novas pesquisas dizem que o bisfenol-A (BPA) pode provocar danos permanentes no cérebro das crianças

Há indícios crescentes de que a exposição pré-natal ao bisfenol-A (BPA) pode provocar alterações permanentes no cérebro das crianças, levando a mudanças comportamentais em fases posteriores da vida. Apesar desta evidência, a FDA (U S Food and Drug Administration) tem declarado que o BPA é perfeitamente seguro para consumo por gestantes, lactentes e crianças. A indústria química, obviamente, concorda totalmente com a FDA. Mas os peritos científicos criticam duramente posição da FDA para o público americano sobre a questão BPA. Por Henrique Cortez, do EcoDebate.

O BPA é usado como ingrediente em produtos de plásticos policarbonatos, tais como mamadeiras e garrafas de água, porque permite que o plástico seja resistente e translúcido.

Um novo estudo divulgado em outubro sugere que a exposição materna ao bisfenol A (BPA) poderia eliminar ou diminuir a diferença de sexo em determinadas respostas comportamentais. O estudo contribui para uma crescente evidência que sugerindo que a exposição ao BPA afeta o cérebro.

Aqueles que têm acompanhado as discussões sobre a segurança do BPA devem ter notado que a Food and Drug Administration (FDA) e o National Toxicology Program (NTP), têm opiniões diferentes sobre a segurança química dos plásticos.

O NTP diz, em sua revisão global, que “O NTP tem alguma preocupação com efeitos no cérebro, comportamento, próstata em fetos, bebês e crianças, nos atuais índices de riscos do bisfenol A.”

A FDA afirmou, em agosto, porém, que o bisfenol-A não representa risco, baseada em provas disponíveis e sugeriu que mais pesquisas são necessárias para provar ou negar a noção de que o BPA é tóxico.

O problema, para os críticos, ocorre porque a FDA, em seu parecer liberado em agosto, optou por não considerar os estudos que encontraram efeitos nocivos para a saúde do BPA. Os críticos destacam, ainda, que a avaliação foi baseada, em grande parte, alguns estudos, com patrocínio da indústria, que não encontraram risco associado à exposição à substância química.

A indústria química defendeu o parecer do FDA.

Um dos pesquisadores que defenderam o bisfenol-A, Steven G. Hentges, da American Chemistry Council’s, foi citado como tendo dito que a avaliação da FDA, em agosto, é “coerente com as conclusões científicas e de outros órgãos governamentais em todo o mundo, tais como a Autoridade Européia de Segurança Alimentar , Saúde do Canadá, e NSF International, sendo que todas concluíram ou atualizaram suas avaliações este ano. Contamos com suas conclusões, que o plástico policarbonato e a resina epoxi são seguros para uso em aplicações com contatos alimentares.”

O que ele não mencionou é que o Canadá tomou a decisão de proibir mamadeiras de plástico contendo BPA e que vários estados dos EUA estão considerando criar legislações para limitar a utilização do BPA em embalagens alimentares. A FDA tinha a sua própria explicação sobre a proibição canadense, em nota divulgada na quarta-feira, 29/10.

A FDA disse que os reguladores canadenses “foram de excessiva precaução” e que a Saúde do Canadá, em sua avaliação do bisfenol-A em recém-nascidos e lactentes até 18 meses de idade, conclui que os níveis de exposição são inferiores aos níveis que poderiam causar efeitos na saúde.”

Independentemente desta posição da FDA, existem provas cumulativas de que o PBA é prejudicial.

Apenas em outubro deste ano, um estudo italiano [Effects of developmental exposure to bisphenol A on brain and behavior in mice] , publicado na Environmental Research (Volume 108, Issue 2, October 2008, Pages 150-157), mostraram que a exposição materna ao BPA, reduziu ou eliminou diferença de gênero em determinadas respostas comportamentais.

Diante das críticas crescentes, a FDA diz que pode iniciar a sua própria investigação no início de 2009, para determinar a toxicidade do BPA em bebês com menos de 1 mês de idade.

Não se sabe quando esses estudos poderiam ser concluídos e, enquanto isto, permanece ainda desconhecida a forma como a FDA teria de responder às crescentes evidências que sugerem que o BPA representa um risco para as crianças.

De uma forma ou outra, é crescente nos EUA, Canadá e Europa a rejeição dos consumidores a produtos com bisfenol-A. Mesmo nos EUA já são muito comuns os produtos, principalmente mamadeiras, rotulados como “BPA Free”. Muitos consumidores norte-americano já evitam recipientes plásticos com a marca impressa de reciclagem número ‘7′, já que muitos desses produtos contem BPA.

Aqueles que estão preocupados com o efeito da ABP pode considerar eliminando ou limitando a sua utilização de garrafas plásticas água e alimentos enlatados, um observador sugeriu saúde. Isto é muito utilizada químicas estrogênica na produção de plástico policarbonato, a simpática e transparente tipo utilizado para engarrafar água e resina epoxi forro alimentar e de bebidas em latas e selantes dentários, de acordo com a NTP.

Embora o tema esteja em debate nos EUA, Canadá e Europa, continua ignorado no Brasil. Dela nada se fala por parte dos órgãos governamentais, da indústria ou dos órgãos de defesa do consumidor. O assunto também continua completamente ignorado pela grande mídia.

De qualquer forma, preferimos continuar a divulgar o debate sobre a segurança do bisfenol-A porque, cedo ou tarde, o assunto também entrará em pauta no Brasil, nem que seja porque a segurança e a saúde de nossas crianças é importante quanto seria nos nos EUA, Canadá e Europa.

Abaixo relacionamos matérias que já publicamos discutindo a segurança e os riscos do BPA, além de duas importantes fontes de consulta relativas às pesquisas e estudos internacionais já realizados.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

À procura de escuridão

Washington Novaes

Quem já viajou de barco à noite por rios e igarapés da Amazônia, perto da linha do Equador - onde brilham no céu estrelas dos dois hemisférios -, sabe o que é a sensação de uma noite realmente escura e de um céu estrelado. O autor destas linhas teve o privilégio de, num barco atracado no Rio Andirá, a algumas centenas de metros de uma aldeia indígena, botar a cabeça para fora da janelinha, ao lado do beliche em que dormia, e ter a sensação de que o mundo era feito só de estrelas - no céu e refletidas nas águas quase imóveis do rio. Sensação semelhante de deslumbramento descreve em seu livro Diversidade da Vida o biólogo Edward O. Wilson, maravilhado com a escuridão da floresta amazônica e as mudanças que ali se processam quando o Sol se esconde e a vida passa a ser regida por seres adaptados à ausência de luz solar, capazes de se orientar pelo olfato, pelo tato, por sensibilidade magnética e outros caminhos.

É uma possibilidade cada vez mais rara num universo que se urbaniza rapidamente - hoje mais de metade da humanidade vive em áreas urbanas e assim será cada vez mais, principalmente com a transferência de centenas de milhões de pessoas para as cidades, na China, na Índia e outros lugares. Sem falar que mais 2 bilhões de pessoas se somarão à população até meados do século. No Brasil mesmo, mais de 80% das pessoas já estão nas cidades, da mesma forma que em toda a América Latina. E isso significa mais problemas, como já observava em 1996 a conferência mundial Habitat II, ao chamar a atenção para o risco de insustentabilidade na qualidade de vida das pessoas, que já exigia "pensar na alternativa de trocar a estratégia de ?lugar de consumo? pela ?de consumo de lugar?." Pássaros e outras espécies também sofrem na busca de alimentos e processos reprodutivos.

Na década de 90, o antropólogo espanhol Julio Baroja já dizia que "a grande cidade começa por nos roubar o essencial: o som dos nossos passos e a visão da nossa própria sombra". Tem toda a razão. Mas a esse pensamento muitos cientistas acrescentam agora outra perda: a da visão do escuro e do céu estrelado. A tal ponto que já se formam instituições - como a International Dark-Sky Association, no Arizona, EUA, que promove visitas a parques escuros, ou a Associação Internacional do Céu Noturno, que reúne 12 mil astrônomos de 75 países - empenhadas em preservar a visão do céu e das estrelas. Em Reykjavik, capital da Islândia, há poucos meses ocorreu o "dia sem luz artificial", 24 horas em que nenhuma luz nos edifícios, nos veículos ou nas ruas foi acesa.

A preocupação dos cientistas com a perda do escuro tem várias razões. The Wall Street Journal (25/7/8), por exemplo, relatou as pesquisas de Robert Lee Holtz, segundo quem a intensidade de luz artificial no mundo, medida em lúmens per capita, triplicou desde 1970 - e isso tem conseqüências na vida animal, na saúde humana e no "espírito humano". Dois terços das pessoas nos EUA e na Europa nem vêem mais um céu estrelado e nunca têm escuro suficiente para que seus olhos se adaptem a uma visão noturna. Nas cidades vêem apenas umas poucas dezenas de estrelas; nas áreas rurais, cerca de 2 mil. As luzes de Los Angeles podem ser avistadas a 200 quilômetros de distância, no Vale da Morte. Há pouco tempo, médicos tiveram de atender habitantes de Los Angeles, assustados com o que viram, durante um blecaute: "Uma estranha substância líquida no céu" (era a Via Láctea).

Mais preocupados ainda estão epidemiologistas como os da Universidade Harvard, segundo os quais enfermeiras que trabalham no período da noite têm incidência mais alta de câncer colo-retal. A pesquisadora Eva Schemhammer, que pesquisou o tema durante anos, também diz que o risco é mais alto para quem trabalha à noite três vezes por semana durante 15 anos. Outros cientistas, da Universidade de Connecticut, afirmam que essa incidência é 73% mais alta, de acordo com pesquisas que fizeram em Israel. E isso se deve a que a ausência de escuro reduz a produção do hormônio melatonina, que pode ajudar a evitar tumores. Tanto a Organização Mundial de Saúde como a Agência Internacional de Pesquisas do Câncer já incluíram o trabalho noturno na lista de possíveis fatores cancerígenos.

Psicanalistas também estudam as conseqüências da urbanização descontrolada na psicologia de crianças, privadas do contato com árvores, animais e até outras crianças, por falta de espaço para o convívio. E conseqüências até em adultos, permanentemente cercados por edifícios e veículos (na cidade de São Paulo são 4 mil veículos por quilômetro quadrado, eles já ocupam mais de 50% do espaço urbano). Não por acaso, o tema mais freqüente nos lançamentos de edifícios e condomínios é o "espaço verde", a "reconquista da liberdade" e coisas assim.

Estranho que pareça, o tema não costuma freqüentar a pauta política e/ou eleitoral, como a recente campanha demonstrou mais uma vez. Embora seja um tema político relevante: afinal, é a qualidade de vida, a saúde dos cidadãos, que está em risco. Porque a urbanização sem controle vem também acompanhada de estatísticas estarrecedoras, como as divulgadas na semana passada: segundo a Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares, "54,6 milhões de pessoas no Brasil não vivem dignamente" - em casas sem água tratada e sem rede coletora de esgotos ou, ainda, em áreas de ocupação irregular ou com construções precárias. É em troca disso que se perde o direito à visão do céu? Ou para viver em gavetas enfumaçadas, com medo de tudo e ódio dos vizinhos, direito só a algumas horas de TV à noite? Imagine-se o que aconteceria se, por um problema qualquer, uma metrópole ficasse uma semana sem TV, com as pessoas confinadas e olhando uma para as outras...

E, no final das contas, onde fica o prazer? É preciso, como prega o poeta Thiago de Mello, não abrir mão: "Faz escuro mas eu canto."

Washington Novaes é jornalista
E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

Mudança nos costumes alimentares levam muitos a hospitais

Karla Correia e Luciana Abade, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Aos 32 anos, Helena Leal Rodrigues já fez duas cirurgias cardíacas para trocar válvulas de seu coração. Sofre com o colesterol alto e hipertensão, controlada a base de medicamentos.

Não pode trabalhar nem realizar esforço físico por conta de uma cardiopatia – diagnosticada aos 15 anos, em um exame rotineiro para permitir a prática de educação física no colégio – agravada ao longo do tempo pela dieta pesada em gorduras e sal.

Até a sua segunda cirurgia, conta, ninguém a havia alertado sobre a necessidade de hábitos alimentares saudáveis. O que, em seu caso, significaria cortar sódio e gorduras, além de aumentar o consumo de verduras ricas em vitamina K.

– Com uma dieta mais adequada, talvez eu não tivesse tantos problemas quanto eu tenho hoje – diz Helena, casada, mãe de uma filha de nove anos.

Como ela não pode trabalhar, a família se sustenta com o salário de seu marido, Evangelista Rodrigues, garçom. Internada no Hospital Universitário de Brasília (HUB), ela espera o conserto de um aparelho no Instituto do Coração (Incor-DF) para realizar um cateterismo.

– Não posso fazer nada por causa da minha saúde. Há três anos que eu não trabalho. Eu era supervisora em um restaurante. Hoje, não tenho energia nem para subir uma escada, quanto mais para trabalhar.

Dois mundos
Helena é o retrato das mudanças de hábitos alimentares de uma fatia expressiva da sociedade brasileira que, com a elevação do seu poder aquisitivo, passou a ter acesso a alimentos industrializados, ricos em sódio e gorduras saturadas, mas continua sem alcançar um grau satisfatório de atenção na rede pública de saúde.

Só muito recentemente, conta, teve acesso a nutricionista e informações sobre cuidados necessários com sua alimentação.

– Ainda não vencemos a guerra contra doenças tropicais por conta da falta de saneamento, de acesso a esgoto, de investimento em campanhas duradouras de erradicação de mosquitos como o da dengue – observa o infectologista Ivo Castelo Branco.
– E, mesmo assim, temos de conviver com o crescimento do número de casos de hipertensão, obesidade e doenças cardíacas em geral. Que são fruto do acesso a alimentos industrializados, do sedentarismo – que vem da automatização do trabalho, da migração do meio rural para o urbano.

São reflexos simultâneos do desenvolvimento e do subdesenvolvimento na mesma população.

Campanhas tardias
Com a sobrecarga no sistema de saúde, surtos de doenças que já deveriam estar erradicadas no território nacional tornam-se comuns. Na década de 90, uma ameaça de epidemia de cólera pôs o Ministério da Saúde em estado de alerta. No ano passado, tivemos surtos de febre amarela e rubéola.

A campanha de vacinação deflagrada para combater a epidemia chegou atrasada para Rafael Parucker, 25 anos, bacharel em Direito. No segundo semestre de 2007, Rafael começou a sentir dores fortes na garganta, articulações, cabeça e olhos, febre e manchas por todo o corpo. De início, os médicos suspeitaram se tratar de dengue. Só o exame laboratorial deixou claro que era rubéola.

– Fiquei de cama durante uns cinco dias e ainda contaminei meu irmão e dois colegas de faculdade – lembra Rafael.

Altamente contagiosa, a doença chamou a atenção do Ministério da Saúde, que mobilizou uma campanha para a vacinação de 30 milhões de pessoas nos meses seguintes, o que daria o direito ao país de solicitar à Organização Mundial da Saúde (OMS) o certificado de erradicação desse mal, que ataca principalmente homens mas tem seus piores efeitos em bebês cujas mães contraíram a doença quando grávidas.

Novos riscos

O que mais preocupa os especialistas, no entanto, é a possibilidade do ressurgimento de doenças já controladas em versões mais resistentes aos medicamentos conhecidos. É o caso da tuberculose.

A doença, de tratamento prolongado e penoso para o paciente, desenvolve facilmente variedades resistentes a medicamentos, no caso de tratamento interrompido. Na opinião do professor da UnB, José Ricardo Marins, os gestores públicos não tratam a tuberculose com seriedade. É preciso treinar pessoas para acompanhar os pacientes, já que muitos desistem do tratamento por causa dos severos efeitos colaterais.

A mesma negligência, segundo o professor, ocorre com a hanseníase. Nesse caso, o problema é o diagnóstico tardio, motivo principal das deformações apresentadas por pacientes.

Alergias podem proteger contra câncer, dizem cientistas

31/10/2008 - 11h43
da Folha de S.Paulo

Alergias costumam ser muito incômodas, mas um novo estudo sugere que elas também podem trazer benefícios. Após revisar quase 650 estudos feitos ao longo de cinco décadas, cientistas da Universidade Cornell, nos EUA, afirmam que há fortes evidências de que os sintomas alérgicos protegem contra alguns tipos de câncer.

Segundo o trabalho, publicado na revista "The Quarterly Review of Biology", a alergia pode ter efeito protetor por expelir partículas estranhas, algumas das quais carcinogênicas, de órgãos mais suscetíveis a entrar em contato com elas. A alergia serviria ainda como um aviso para que as pessoas soubessem quando há substâncias no ar que devem ser evitadas.

Para André Murad, chefe da disciplina de oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, a hipótese tem base científica. Ele explica que, teoricamente, o mesmo mecanismo de autoproteção disparado para combater o alérgeno (agente capaz de produzir alergia) pode combater substâncias de células tumorais.

"A estrutura molecular da célula tumoral lembra o perfil molecular dos alérgenos. Pode ser que os anticorpos produzidos pela pessoa alérgica protejam contra as células tumorais e as eliminem antes de elas formarem o tumor."

Os cientistas viram que a associação inversa entre alergia e câncer é bem mais comum com tumores que têm contato direto com o ambiente, como de boca, reto e pele, e com alergias como a alimentar e a animais.

Mas valeria a pena suspender tratamentos contra a alergia? Os cientistas dizem que ainda são necessários mais estudos para responder a essa questão.
Com agências internacionais

Treino errado nas academias gera epidemia de lesões

Folha on Line, 10/10/2008 - 22h04
HELOÍSA HELVÉCIA
editora do Vitrine

Recomeça a corrida maluca às academias. Como em toda véspera de verão, as salas de musculação incham, as aulas de bike bombam. E sobe o índice de sarados machucados.
Ali, onde se busca saúde, são fabricadas também --com cinturas de pilão e barrigas de tanquinho-- contusões, dores, doenças que incapacitam.

Não há estatística associando uma artrose precoce ao abuso de "leg press". Nem a mesa de cirurgia de hoje à mesa romana de ontem (aparelho em que a vítima, de bruços, chuta o ar com a barra de ferro nos tornozelos). Mas há ortopedistas, fisioterapeutas e professores de olho nessas relações. Eles identificam uma epidemia de lesões causadas pelo tipo de treino praticado na maioria das 10 mil academias do país (somadas também as informais).

Os Sinais do corpo

Bons Fluidos, Setembro de 2008
Descubra o que seu corpo tem a dizer sobre você
Texto • Giuliano Agmont e Ana Holanda

O terapeuta percorre o corpo com as mãos. Os movimentos são leves e contínuos. O terreno é desconhecido, mas o tato vai lhe dar as respostas para a dor de cabeça constante, o inchaço no joelho, a nuca rígida. E, do mesmo jeito que as mãos encontram o início desses nós, são elas também que, por meio de toques firmes e sutis, desatam os emaranhados. Esse é o princípio da microfisioterapia, um método recém-chegado ao Brasil e uma novidade capaz de auxiliar os que sofrem de dores dos mais variados tipos.

Nesse método, o terapeuta identifica o que ele denomina de cicatrizes esquecidas pela mente – fatos do passado –, mas gravadas pelo corpo. As marcas são feixes nervosos que se enrijecem. As cicatrizes podem ser geradas ou herdadas. “A idéia é identificar a fase em que o trauma aconteceu com base na cicatriz. Temos um mapa que divide o organismo por períodos: fetal, infância, adolescência e fase adulta. Depois disso, buscamos a correspondência desse período com as vértebras da coluna”, explica a fisioterapeuta Daniela Vitorino Mingues. “Estabelecidos os elos, executamos uma estimulação simultânea nos dois pontos para fazer com que o corpo reaja.”

A microfisioterapia veio se somar a tantas outras terapias que têm no corpo seu aliado e usam a dor como sinalizador, que nos guia para a origem do problema. Por exemplo: a dor de estômago permanente pode ser um alerta sobre a dificuldade em lidar com a raiva, e a insônia ressoa mágoa e tristeza guardadas.

É preciso ouvir os sinais
Seria bom se, assim como os terapeutas corporais, tivéssemos a percepção de que a dor é uma linguagem que pode ser decifrada. Isso porque o corpo, sábio, dá sinais de alerta antes que um determinado problema se configure na consciência. As terapias corporais, a dança e algumas linhas da psicologia defendem que nosso corpo expressa sentimentos, situações de vida, que nem sempre o cérebro tem coragem de revelar. Isso oferece uma poderosa ferramenta para quem busca se conhecer melhor.Então, que tal afinar a percepção e ouvir com toda a clareza o que seu corpo está tentando lhe dizer?

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Estresse na gravidez tem efeitos nocivos sobre filhos, diz estudo

BBC, 28 de outubro, 2008

Filhos de mães estressadas podem sofrer de ansiedade e depressão
Situações de estresse durante a gravidez podem ter efeitos nocivos sobre os filhos, de acordo com um novo estudo de pesquisadores israelenses.

A pesquisa da Escola de Farmácia da Universidade Hebraica de Jerusalém indica que o estresse na gravidez pode retardar o desenvolvimento das crianças e provocar problemas de aprendizagem e de atenção, ansiedade, sintomas depressivos e até mesmo autismo.

Em testes de laboratório realizados com ratos, os pesquisadores compararam os comportamentos de filhotes de mães estressadas com os de mães que não foram submetidas a situações de estresse.

Também foram comparados os resultados de diferentes situações de estresse e diferentes períodos da gestação.

Memória
Segundo a coordenadora da pesquisa, Marta Weinstock-Rosin, quando as ratas grávidas eram submetidas a situações estressantes, como sons irritantes, seus filhotes tinham sua capacidade de memória e de aprendizado prejudicadas.

Esses filhotes também apresentaram dificuldade maior de lidar com situações adversas, como a falta de comida por exemplo, do que aqueles cujas mães não haviam passado por situações estressantes.

Foram observados ainda sintomas de ansiedade e de comportamento depressivo nos filhotes de mães submetidas a estresse.

Segundo Weinstock-Rosin, todos esses sintomas verificados nos testes em laboratório podem ser observados em crianças cujas mães sofreram de estresse durante a gravidez.

Cortisol
Em pesquisas complementares, Weinstock-Rosin demonstrou os efeitos de níveis excessivos do hormônio cortisol, que é liberado pela glândula adrenal durante períodos de estresse e chega ao cérebro do feto durante estágios críticos de desenvolvimento.

Em condições normais, esse hormônio tem uma função benéfica de fornecer energia instantânea.
De acordo com Weinstock-Rosin, porém, esse efeito benéfico só ocorre quando o hormônio é liberado em doses pequenas e por um curto período de tempo.

Em situações de grande estresse, as altas doses desse hormônio que atingem o cérebro do feto podem causar mudanças funcionais e estruturais.

Gravidez saudável
Segundo Weinstock-Rosin, níveis acima do normal de cortisol em humanos também podem estimular a liberação de outro hormônio da placenta que causa partos prematuros - outro fator que pode afetar o desenvolvimento.

A pesquisadora afirma que ainda são necessários mais estudos e testes para avaliar outros possíveis efeitos de níveis de hormônio acima do normal em crianças.

No entanto, Weinstock-Rosin diz que o estudo demonstra que evitar o estresse é uma boa receita para uma gravidez saudável e para filhos saudáveis.

Os resultados da pesquisa serão apresentados em uma conferência em Jerusalém nos dias 29 e 30 de outubro.

Estudo liga pouco sono a câncer de mama

BBC, 03 de novembro, 2008
Ligação pode ser na produção de melatonina

Mulheres que regularmente dormem seis horas ou menos por noite podem estar aumentando o risco de ter câncer de mama em mais de 60%, segundo um estudo de pesquisadores japoneses.
O estudo, realizado por uma equipe da Tohoku University Graduate School of Medicine in Sendai, no Japão, foi publicado na revista acadêmica British Journal of Cancer.

Os cientistas analisaram os hábitos de quase 24 mil mulheres com idades entre 40 e 79 anos durante oito anos. Nesse período, 143 foram diagnosticadas com câncer de mama.

Eles descobriram que aquelas que dormiam regularmente seis horas ou menos por noite tinham 62% mais chances de ter câncer de mama comparado com as que dormiam regularmente sete horas.

Além disso, mulheres que dormiam, em média, nove horas por noite tinham 28% menos chances de ter o tumor.

Os cientistas acreditam que a ligação pode estar no hormônio melatonina, produzido pelo cérebro durante o sono para regular o relógio interno do corpo. A melatonina teria um papel importante na prevenção do câncer de mama ao controlar a quantidade de hormônios sexuais que é liberada.
Eles afirmam, no entanto, que não tiveram informações sobre a qualidade do sono das mulheres, o uso de remédios para dormir ou a presença de problemas na hora de dormir.

A organização Cancer Research UK disse que um "número crescente de estudos" aponta para uma ligação entre falta de sono e câncer.

"A evidência atual sugere que hábitos na hora de dormir podem ter um pequeno efeito no risco de câncer de mama", disse Henry Scowcroft, da Cancer Research UK ao jornal Daily Mail.
"Mas ainda é muito cedo para dizer se esse efeito é importante quando comparado com outros fatores de risco no estilo de vida, como peso, exercícios e consumo de álcool", concluiu.

Câncer desativa alerta ao sistema imunológico

EFE
O câncer anula a função de alerta do "sistema do complemento" e consegue assim escapar da ação do sistema imunológico, segundo um artigo publicado neste domingo pela revista científica britânica Nature Immunology.

O sistema do complemento é uma "cascata" de proteínas que atuam como um alarme de incêndios para alertar o sistema imunológico da presença de uma infecção.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia (EUA), liderada por John Lambris, explica que existe um enlace "aparentemente ilógico" entre a ativação dos sensores imunológicos e a capacidade dos tumores para escapar do sistema de defesas.
O câncer ativa uma das proteínas da cascata do sistema de complemento, o C5, o que causa a anulação da resposta imunológica do organismo contra as células tumorais.

Uma vez que esta proteína tenha sido ativada, recruta células supressoras do sistema imunológico que "desarmam" as células de defesa e lhes impede, portanto, que "matem" as cancerígenas.

Os cientistas demonstraram que o bloqueio da atividade da proteína C5 desacelera o crescimento do tumor em ratos de laboratório e que este tratamento é tão efetivo como o de taxol, um fármaco anticancerígeno.
EFE

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Memórias estressadas

Mente e Cérebro
Um pouco de agitação pode até fortalecer a memória. mas, depois de uma situação prolongada de stress, o cenário mental já não é tão satisfatório.
por Robert M. Sapolsky

O primeiro beijo. O casamento. O dia em que o carro saiu do controle na estrada e passou raspando pelo caminhão. Onde você estava quando houve uma inundação, quando Kennedy foi assassinado, durante o ataque de 11 de setembro de 2001. Cada detalhe desses eventos marcantes é gravado a fogo na sua mente, ainda que você não consiga se lembrar de absolutamente nada do que aconteceu nas últimas 24 horas. Ocasiões excitantes, emocionantes e grandiosas, inclusive as estressantes, são arquivadas facilmente. O stress pode melhorar a memória.

Todos nós também já passamos pela experiência oposta quando estamos estressados. Na primeira vez em que encontrei a família da minha futura esposa, estava com um nervosismo dos diabos; durante um jogo de palavras terrivelmente disputado depois do jantar, pus a perder a liderança da equipe composta por mim mesmo e por minha futura sogra com a total incapacidade, num momento crítico, de lembrar a palavra "caçarola". Alguns casos de falha da memória estão ligados a traumas infinitamente maiores: o veterano que passou por alguma catástrofe de batalha impronunciável, alguém que sofreu abuso sexual na infância - para quem os detalhes se perdem numa névoa amnésica. O stress pode atrapalhar a memória.

Para pesquisadores que estudam o fenômeno, como eu, essa dicotomia é bastante familiar. O stress melhora algumas funções em certas circunstâncias e as atrapalha em outras. Pesquisas recentes mostram como situações estressantes leves ou moderadas melhoram a cognição e a memória, enquanto as fortes ou prolongadas prejudicam essas capacidades.

Para entender como o stress afeta a memória, vamos a alguns dados básicos sobre como as memórias são formadas (consolidadas), como são recordadas e como podem desaparecer.

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Robert M. Sapolsky é professor de ciências biológicas e neurologia da Universidade Stanford e pesquisador-associado do Museu Nacional do Quênia, onde estuda uma população de babuínos selvagens há mais de 25 anos. Concluiu seu dotourado em neuroendocrinologia na Universidade Rockfeller em 1984. Os campos de pesquisa de Sapolsky incluem morte neuronal, geneterapia e fisiologia de primatas.

O avanço da Psicoterapia Corporal

Mente e Cérebro
Seguidores de Wilhelm Reich desenvolveram abordagens hoje reconhecidas mundialmente como psicoterapias: bioenergética, biossistêmica, biossíntese e biodinâmica procuram o equilíbrio entre corpo, psique e sociedade.
por Rubens Kignel

Wilhelm Reich, o precursor do "corpo em psicoterapia", deixou um legado de importantes discípulos, a partir dos quais nasceu uma segunda geração de seguidores que ocupam lugar de destaque na psicoterapia brasileira e de vários países. São chamados de neo-reichianos pois se baseiam em conceitos e princípios criados por Reich, mas revistos, atualizados e influenciados por suas próprias pesquisas. Durante muitos anos o trabalho neo-reichiano foi considerado um campo paralelo à psicoterapia, mas hoje é reconhecido mundialmente como psicoterapia. Seu movimento de evolução e atualização foi muito vigoroso durante os últimos 30 anos. Vejamos algumas das principais abordagens e alguns de seus conceitos principais.

O trabalho de Reich sobre a "couraça muscular" foi desdobrado por Alexander Lowen e John Pierrakos, considerados os primeiros discípulos neo-reichianos. Ambos estudaram diretamente com Reich antes de trabalhar em colaboração. Por volta de 1950, desenvolveram uma técnica que denominaram "bioenergética", termo reichiano que significa energia biológica. Lowen e Pierrakos acabaram seguindo caminhos diferenciados apesar de terem mantido as mesmas bases e conceitos do mestre.

Lowen continuou com o trabalho da bioenergética, que acabou se transformando numa abordagem muito conhecida e reconhecida de trabalho psicocorporal. Um dos principais conceitos da bioenergética é o grounding, termo em inglês que significa "enraizamento", ou, em bom português, "pôr os pés no chão", "incorporar-se", "equilibrar-se", "cair na real", "estar em si e consigo mesmo". No princípio, grounding significava para ele o movimento energético da cabeça em direção ao pés, como forma de incorporação e autoconhecimento. Lowen partia do princípio reichiano de que os caracteres neuróticos, durante o ciclo do desenvolvimento, fixam-se energeticamente em algum ponto-chave do corpo, interrompendo o fluxo da energia. Esses pontos são chamados de anéis, e o bloqueio de energia ocorre desde muito cedo, durante os primeiros três meses, quando o bebê aprende a se defender principalmente com os olhos, evitando o contato ruim com o ambiente. O bloqueio, portanto, se estabelece nos olhos.

Mais tarde, na época do desenvolvimento da sexualidade, a interrupção do fluxo de energia se dá na pélvis.

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Rubens Kignel é psicoterapeuta, mestre em comunicação e semiótica pela PUC-SP, coordenador do curso de pós-graduação "O corpo em psicoterapia" (Unip), membro da Associação Brasileira de Psicoterapia e presidente do 7º Congresso Internacional de Psicoterapias Corporais, que acontece no Sesc Pompéia, em São Paulo, de 13 a 16 de outubro de 2005.

Iluminação Neuronal

Mente e Cérebro
Meditação é muito mais que um exercício de relaxamento. Neurocientistas constatam que exercícios mentais regulares modificam nossas células cinzentas - e, portanto, também nosso modo de pensar e sentir.
por Ulrich Kraft

Vermelho, amarelo, verde. Diante das diferentes cores nas imagens de ressonância magnética funcional, Richard Davidson identifica as regiões do cérebro de seu voluntário que apresentam atividade significativa enquanto este tenta conduzir a própria mente ao estado conhecido como "compaixão incondicional". O tubo estreito do barulhento tomógrafo de ressonância magnética está, com certeza, entre os locais mais estranhos nos quais Matthieu Ricard já praticou essa forma de meditação, central na doutrina budista, nos seus mais de 30 anos de experiência.

Para o francês, o papel de cobaia no laboratório de Davidson, na Universidade de Wisconsin, em Madison, é também uma viagem ao passado - a seu passado como cientista. Em 1972, aos 26 anos, Ricard obteve seu doutorado em biologia molecular no renomado Instituto Pasteur, de Paris. Pesquisador iniciante, com futuro promissor pela frente, decidiu-se pela "ciência contemplativa". Viajou, então, para o Himalaia e passou a dedicar a vida ao budismo tibetano. Hoje, é monge do mosteiro Schechen, em Katmandu, escritor, fotógrafo e, na condição de tradutor, integrante do círculo mais próximo ao Dalai Lama. Ricard, no entanto, retornou à "ciência racional" porque Davidson queria saber que vestígios a meditação deixa no cérebro.

Sem o Dalai Lama, é provável que a insólita colaboração entre o neuropsicólogo e o monge jamais tivesse acontecido. Há cinco anos, ao lado de outros pesquisadores, Davidson visitou o chefe espiritual do budismo tibetano em Dharmsala, local de seu exílio na Índia. Lá, discutiram animadamente as descobertas neurocientíficas mais recentes e, em particular, como surgem as emoções negativas no cérebro. Raiva, irritação, ódio, inveja, ciúme - para muitos budistas praticantes, essas são palavras desconhecidas. Eles enfrentam com serenidade e satisfação até mesmo o lado ruim da vida. "A meta suprema da meditação consiste em cultivar as qualidades humanas positivas. Então, vimos isso como algo que precisaríamos investigar com o auxílio das ferramentas modernas da ciência", conta Davidson.

Ele foi pioneiro nessa área, mas nomes importantes da pesquisa cerebral seguiram seus passos. Com auxílio da medição das ondas cerebrais e dos procedimentos de diagnóstico por imagem, os cientistas buscam descobrir o que nosso órgão do pensamento faz enquanto mergulhamos em contemplação interior. E os esforços já deram frutos. Os resultados dessa pesquisa high-tech, no entanto, dificilmente surpreenderiam o Dalai Lama, uma vez que não fazem senão comprovar o que os budistas praticantes vêm dizendo há 2.500 anos: a meditação e a disciplina mental conduzem a modificações fundamentais na sede do nosso espírito.

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Ulrich Kraft é médico e jornalista científico.

A ponto de explodir

Mente e Cérebro

Novos tratamentos farmacológicos e por acupuntura prometem atenuar as crises de enxaqueca, caracterizadas por dores de cabeça lancinantes, náusea e vômito.
por Felicitas Witte

Quando Maria começa a ver desenhos amarelos ziguezagueando a sua frente, só pode fechar os olhos e agüentar firme. Logo, a cabeça começa a martelar e a retumbar, como se fosse explodir. A dor lancinante, bem atrás da testa, a faz esquecer o mundo ao redor. Qualquer ruído transforma-se num verdadeiro rugido, todo movimento provoca náuseas. Lá fora, no corredor do consultório, o próximo paciente aguarda a vez. A fisioterapeuta, porém, não consegue nem pensar em trabalho - pelo menos até que a crise passe. E isso pode demorar.

Maria teve sua primeira crise de enxaqueca há 15 anos. Ainda se lembra muito bem. Já pela manhã, sentira-se mal. Então, por volta da hora do almoço, veio a dor de cabeça latejante. O lado direito martelava com muita força. Aos 19 anos, estava no meio de sua formação como fisioterapeuta. O stress da clínica e a luz artificial causavam-lhe problemas, mas ela nunca deixou que notassem. Naquela tarde, porém, foi para casa mais cedo que de hábito, abaixou as persianas e, exausta, adormeceu no sofá. Só foi acordar na manhã seguinte, 15 horas depois. Sentia-se cansada, mas as dores tinham desaparecido. Como se tudo não tivesse passado de um pesadelo.

Um mês depois, a mesma coisa: um mal-estar estranho pela manhã e, poucas horas mais tarde, a cabeça martelando. A jovem toma um analgésico, mas alívio mesmo só obtém no escuro do seu quarto, quando enfim consegue se deitar.

Que sofria de enxaqueca, ela ainda nem desconfiava. Embora tivesse fortes dores de cabeça semana sim, semana não, durante os dois anos seguintes, ela de início não procurou um médico. Escondia as dores até mesmo dos colegas na clínica. Não queria ser vista como uma pessoa que se queixava demais. O trabalho no centro cirúrgico de um grande hospital era seu primeiro emprego fixo.

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Felicitas Witte é doutora em medicina e atua como jornalista científica em Mannheim, Alemanha.

Sinal de alerta

Stress crônico deixa as pessoas doentes. De que forma? Como podemos prevenir seus efeitos nocivos?
por Hermann Englert

Acessos de raiva, ataques do coração, enxaqueca, úlceras no estômago, síndrome do intestino irritável, perda de cabelo nas mulheres - o stress é o culpado por todas essas doenças e muitas outras. A Natureza dotou nossos antepassados pré-históricos de uma ferramenta para ajudá-los a enfrentar ameaças: um sistema rápido de ativação capaz de aguçar a atenção, acelerar as batidas do coração, dilatar os vasos sangüíneos e preparar os músculos para lutar ou fugir do urso que invadia a caverna.

Porém, nós, os humanos modernos, estamos constantemente sujeitos ao stress decorrente de trânsito, prazos, contas, chefes coléricos, companheiros irritadiços, barulho e, ainda, de pressão social, doenças físicas e desafios intelectuais. Como resultado, muitos órgãos de nosso corpo são atingidos por uma descarga implacável de sinais de alarme que podem danificá-los e prejudicar a saúde.

Mas o que exatamente acontece no cérebro e no corpo quando estamos estressados? Quais órgãos são ativados? Quando os alarmes começam a causar problemas críticos? Somente agora estamos formulando um modelo coerente para explicar como o stress contínuo nos causa mal, mas já encontramos possíveis pistas para aliviar as agressões.

O Caminho para a Sobrecarga
Nas últimas décadas, os pesquisadores identificaram diversas partes do cérebro e do corpo que contribuem, de forma considerável, para a reação ao stress - o modo como respondemos aos estressores externos. Essas regiões processam informação sensorial e emocional e se comunicam com uma vasta rede de nervos, órgãos, vasos sangüíneos e músculos, realocando as reservas de energia do corpo, de modo que possamos avaliar e reagir às situações.

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Hermann Englert é biólogo e escritor científico em Frankfurt, Alemanha.

Esgotamento Total

Mente e Cérebro
Com esforço e perseverança tudo se alcança, reza a lenda. Mas cuidado: o excesso de trabalho e o stress prolongado podem causar a síndrome de burnout, provocando dores, irritação e depressão .
por Ulrich Kraft

Quando pôs a mão no diploma de administração, há nove anos, Lauro N. era um exemplo de jovem com "alto potencial." Tinha 28 anos, nenhum vínculo, mostrava-se ávido para aprender e, graças à excepcional qualificação, predestinado a ter uma carreira esplêndida.

Lauro de fato fez valer todo seu potencial. Começou como consultor organizacional e logo chegou a uma posição de comando. Carro da empresa, bom salário, responsabilidade. Porém, em troca do sucesso profissional, teve de se sujeitar a certas rotinas. Freqüentes viagens, muitas noites em hotéis, 60 a 80 horas de jornada semanal e compromissos nos fins de semana - durante anos. "De vez em quando, eu sentia quanto era puxado, mas, por muito tempo, toda aquela exigência, o trabalho sob pressão e os níveis de excelência que eu mesmo me impunha me davam enorme prazer, um verdadeiro barato", conta.

Um "barato" que terminou no hospital. Um dia, Lauro despencou. Sentiu fortes dores de cabeça, tontura e taquicardia. No diagnóstico, a surpresa: síndrome do esgotamento profissional. O consultor tinha adoecido em virtude dos anos de sobrecarga no trabalho.

Variados Sintomas
Também chamada síndrome de burnout, a enfermidade deve o nome ao verbo inglês "to burn out" - queimar por completo, consumir-se - e ao psicanalista nova-iorquino Herbert J. Freudenberger, que a nomeou no início dos anos 70. Ele constatou em si mesmo que sua atividade profissional, que tanto prazer lhe dera no passado, só o deixava cansado e frustrado. Também notou em muitos de seus colegas, antes apaixonados por seu ofício, a estranha mutação que os transformava em cínicos depressivos, capazes de tratar os próprios pacientes com crescente insensibilidade e desinteresse.

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Ulrich Kraft é médico e jornalista científico.

Delicada superfície

Mente e Cérebro
Distúrbios psíquicos mobilizam hormônios, interferem no equilíbrio imunológico e desencadeiam perturbações na pele, como acne, dermatite e psoríase
por Massimo Barberi

Ariane tem 19 anos e prepara-se para a primeira viagem ao exterior: vai passar um mês em Londres, prestando serviços a uma família em troca de hospedagem. Quando volta, sua mãe quase não a reconhece no aeroporto: o rosto da filha está completamente coberto pela acne. Na tentativa de explicar a transformação na pele de Ariane, a mãe sugere tratar-se de uma reação à mudança no cardápio e acredita que o retorno à dieta habitual e o uso de cremes irão eliminar as espinhas. Mas isso não acontece. Pústulas e pápulas permanecem. A culpa não é dos hábitos alimentares ingleses: em Londres, Ariane viveu uma intensa história de amor. Ao terminar o relacionamento, somatizou a ansiedade e o stress.

“Um clássico exemplo de acne psicossomática”, explica o dermatologista Roberto Bassi, professor de psicossomática da Universidade de Ferrara, na Itália. Ele estuda os efeitos da somatização no maior órgão do corpo, a pele, e afirma que a acne é uma resposta defensiva à ansiedade: “O contato com outras pessoas costuma ser fonte de stress em adolescentes; as espinhas são álibis para reduzir ocasiões de socialização”. O processo tem início no cérebro, onde um mecanismo hormonal lança o sinal que atravessa hipotálamo e hipófise, chega às glândulas sebáceas e à pele, desencadeia a inflamação e predispõe a infecções.

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Massimo Barberi é jornalista científico.

Inconsciente e impermanência

Mente e Cérebro
A busca pelo conhecimento de si e a abordagem holística do ser humano e do mundo são apenas alguns dos aspectos comuns entre psicanálise e budismo
por Benilton Bezerra Jr.

A busca pelo conhecimento de si e a abordagem holística do ser humano e do mundo são apenas alguns dos aspectos comuns entre psicanálise e budismo

Que pode haver em comum entre uma tradição religiosa de 25 séculos nascida na Índia uma sociedade de castas altamente hierarquizada e marcada pela visão holística do mundo e uma prática clínica inventada na Europa há pouco mais de 100 anos, surgida como expressão de uma cultura laica, racional e individualista? Se prestarmos atenção aos percursos históricos, aos vocabulários, a práticas e rituais e a certos objetivos específicos desses dois campos, podemos ver budismo e psicanálise como universos muito distintos: de um lado espiritualidade, contemplação e desapego ao eu, de outro teorias leigas, dispositivos clínicos e uma prática voltada para a ampliação da capacidade normativa do sujeito. No entanto, um olhar mais atento perceberá que por trás das aparentes diferenças há algumas afinidades muito importantes. Podemos citar pelo menos quatro.

O ponto de partida na experiência: tanto o budismo quanto a psicanálise partem da descrição e compreensão da experiência para desvelar a Natureza , o funcionamento do eu e para encontrar formas mais interessantes de lidar com os problemas. Aí se percebe um colorido fenomenológico comum a ambas as tradições porque seu centro (o que está sempre em questão, sendo observado e descrito) não é uma suposta natureza objetiva, acabada e independente é a experiência de si, do mundo, das relações com os outros, o modo como vivenciamos e interagimos com esses fenômenos.

A ênfase na ação: embora tenham produzido teorias complexas e arquiteturas conceituais muito sofisticadas, budismo e psicanálise são fundamentalmente saberes ligados a práticas, formas de intervir na existência. Tal como a filosofia era vista na Antigüidade, budismo e psicanálise são hoje instrumentos para agir no mundo, mais do que para simplesmente conhecê-lo. De ambos se poderia dizer o que o filósofo francês Georges Canguilhem disse a propósito da produção de conhecimento na medicina: o pathos precede o logos. É porque sofremos que somos instados a criar formas de descrever o eu, o mundo e a vida de modo que possamos transformar nossa existência, tornando-a mais interessante e digna de ser vivida.

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Benilton Bezerra Jr. é psiquiatra, psicanalista e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

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Mente e Cérebro
Utilizar técnicas de atenção plena para aceitar o presente e para vivê-lo de forma intensa pode ajudar a controlar o stress e modificar comportamentos inadequados, harmonizando pensamentos e sentimentos
por Steve Ayan

Depois da segunda caneca de cerveja, minha concentração acabou. Bebida e música alta atrapalhavam qualquer tentativa de ouvir minha própria respiração. Debruçado sobre a mesa, eu falava ininterruptamente com a pessoa à minha frente. Minhas palavras pareciam um pouco deslocadas em meio à bagunça. Não importa, eu precisava falar: naquele mesmo dia eu havia meditado por sete horas inteiras. Até então, nunca havia me entregado a essa prática –- pelo menos não seriamente. E me sentia como se tivesse carregado as baterias.

Pela manhã, havia participado da atividade no grande salão de conferências do Centro de Psicoterapia Integrativa (CIP) de Munique, com 18 noviços – 17 mulheres e um homem. Meditação fazia parte de um curso de extensão para terapeutas e médicos interessados em aprender fundamentos da atenção plena, - pois quem pretende utilizar a prática com seus pacientes deve primeiro exercitá-la.

No meio da sala, em volta de um girassol pintado sobre o assoalho, foram espalhados vários cartões-postais. Em vez das apresentações usuais, os participantes foram orientados a escolher uma figura que representasse seu estado de espírito naquele momento. Eu me decido por uma vista do rio Sena, me sinto como se estivesse de férias.

Deitados de costas, “percorremos” mentalmente nosso corpo. Esse primeiro exercício é chamado justamente de body scan. Guiados pela voz da psicóloga Petra Meibert, que coordena a atividade, o foco de atenção se desloca pouco a pouco, partindo dos pés, passando pelas pernas, torso e braços até chegar à cabeça, procurando “sentir” cada órgão. Mantenho-me concentrado e procuro desconsiderar sinais de cansaço. Mas já na próxima meditação, sentado, esbarro em meus limites. “Sua respiração é uma âncora que sempre o traz de volta para o aqui e o agora”, observa a professora com voz suave. “Cada inspiração é um novo começo e cada expiração é um desprendimento.”

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Steve Ayan é psicólogo e redator da Gehirn&Geist

Agulhas, tatuagens e neurônios

Mente e Cérebro
As aplicações da acupuntura em pontos específicos do corpo parecem estimular o circuito nervoso responsável pela percepção da dor, diminuindo sua intensidade.
por Sidarta Ribeiro

A inserção de agulhas em pontos específicos do corpo para fins terapêuticos é praticada há milênios. Sua origem parece ser a China, mas tatuagens em corpos mumificados encontrados na América do Sul, Sibéria e Europa Central (Moser et al. (1999) Lancet 354:1023) sugerem o uso da acupuntura por culturas pré-históricas não-chinesas. O exemplo mais famoso é Ötzi, homem preservado pelo gelo alpino por 5.200 anos, surpreendentemente marcado por tatuagens que parecem indicar, com precisão de milímetros, alguns pontos da acupuntura chinesa (Dorfer et al. (1999) Discov. Archaeol. 1:16). Entusiastas vêem nesses achados uma confirmação de que os pontos da acupuntura, distribuídos ao longo de um complexo mapa de meridianos, refletem um conhecimento ancestral objetivo sobre onde atuar no corpo para atenuar a dor. Em 1965, Melzack e Wall propuseram que a acupuntura aniquila a dor pela interferência - em "portais" neurais especializados - dos estímulos dolorosos leves com a dor patológica (Science 150: 971).

No entanto, o uso da acupuntura na prática médica ocidental enfrenta fortes resistências desde os tempos de Marco Pólo. Embora não se duvide mais da eficácia das agulhas para induzir sedação, muitos cientistas sustentam que os efeitos da acupuntura decorrem apenas da crença do paciente no potencial terapêutico do tratamento. Para os céticos, a única utilidade da acupuntura é a indução de um efeito placebo genérico, através da liberação de analgésicos endógenos como os opióides (Pomeranz & Chiu (1976) Life Sci. 19:1757). Segundo esta visão, os pontos específicos preconizados pela acupuntura chinesa seriam inúteis como saber médico, não passando de uma velha superstição associada a um bom placebo.

Esta interpretação tem sido questionada recentemente por comparações dos efeitos da aplicação de agulhas em pontos e não-pontos de acupuntura. Experimentos em ratos revelaram que a estimulação de pontos tradicionais causa uma maior expressão de genes induzidos por atividade neural em regiões do cérebro associadas a dor e atenção (Medeiros et al. (2003) Braz. J. Med. Biol. Res. 36:1673; Lao et al. (2004) Brain Res. 1020:18). O imageamento cerebral de humanos por tomografia de emissão de pósitrons (PET) também ilumina a questão. Biella e colaboradores (NeuroImage (2001) 14:60), comparando os efeitos da acupuntura com a aplicação de tratamento placebo, observaram que a acupuntura causa uma forte ativação em áreas cerebrais relacionadas à dor, conforme previsto pela "teoria dos portais" dos anos 60. O grupo de Pariente (NeuroImage (2005) 25: 1161) comparou acupuntura e placebo com o toque não perfurante de agulhas de madeira. O toque cutâneo causou ativação apenas das áreas cerebrais relacionadas ao tato, enquanto o tratamento placebo ativou também as áreas cerebrais relacionadas à recompensa e liberação de opióides. A acupuntura, além de todas estas áreas, ativou ainda o córtex insular, implicado na modulação da dor.

Em resumo, estes resultados sugerem a existência de um efeito específico dos pontos da acupuntura, para além da fé na eficácia das agulhas. Quando praticada em seus pontos tradicionais, a acupuntura parece ser capaz de perturbar o circuito nervoso responsável pela percepção consciente da dor, de forma a diminuir sua intensidade. Mas de que modo os rudes antepassados de Ötzi aprenderam a realizar esta sofisticada reprogramação neural? Provavelmente a terapia envolvia inicialmente apenas o efeito placebo, evoluindo depois, por tentativa e erro, para a aplicação nos pontos que melhor atenuam a dor. Grandes sábios tatuados do passado!

Sidarta Ribeiro é Ph.D. em neurobiologia pela Universidade Rockefeller e pesquisador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN). Fez pós-doutorado na Universidade Duke (2000-2005) investigando as bases moleculares e celulares do sono e dos sonhos e o papel de ambos no aprendizado.

A vitória do tempo

Mente e Cérebro

A depuração das memórias e o uso constante da mente e do corpo são a melhor terapia para combater doenças degenerativas do envelhecimento.
por Sidarta Ribeiro

Poucas coisas são mais deploradas na cultura ocidental quanto o envelhecimento, sinônimo de fragilidade física e decadência mental. De fato, as grandes mudanças corporais que a idade traz são muitas vezes seguidas por doen-ças neurodegenerativas que terminam por conduzir à demência. Uma delas, o mal de Alzheimer, se caracteriza pelo acúmulo cerebral de neurofibrilas e placas compostas por proteínas tau e peptídeos beta-amilóides, respectivamente. A imunização contra peptídeos beta-amilóides é uma das possibilidades de cura para essa doença (Monsonego e Weiner, 2003, Science 302: 834-838).

Mais recentemente, experimentos com camundongos transgênicos demonstraram que os déficits de memória que acompanham a excessiva produção de proteína tau podem ser revertidos pela interrupção da sua síntese (Santacruz et al., 2005, Science 309: 476-481). Boas notícias chegam ainda de estudos sobre os hábitos de gêmeos idosos nos quais apenas um dos indivíduos apresenta demência; os resultados indicam que a intensa atividade intelectual retarda o aparecimento do Alzheimer (Crowe et al., 2003, J. Gerontol. Psychol. Sci. 58B: 249-255), reforçando a idéia de que o uso constante da mente e do corpo é a melhor terapia contra a erosão do tempo.

No entanto, mesmo superadas as patologias, o idoso parece fadado a se deparar com limites inflexíveis. Dizia Luiz Fernando Gouvêa Labouriau (1921-1996), primeiro bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e motor crucial da fisiologia vegetal no Brasil, que com o passar do tempo seu cérebro (poderoso, diga-se de passagem) parecia haver chegado ao limite de sua capacidade de armazenamento: para aprender o nome de um aluno novo, necessitava esquecer o nome científico de alguma planta. A brincadeira, proferida em tom sereno, expressava um leve inconformismo com o horizonte intelectual humano. Por ser um sistema finito, o cérebro possui um máximo de estocagem mnemônica, mesmo naqueles que escolhem exercitá-lo por toda a vida.

Mas se até o idoso mais sadio precisa contentar-se com a substituição de suas representações cognitivas em lugar da expansão mental fácil da juventude, que vantagem, utilidade ou beleza há na velhice? A resposta a esta pergunta importante encontra-se justamente na receptividade que Labouriau dedicava aos estudantes de todas as idades. Diante do dilema, Labouriau optava por se desprender da memória querida - o nome de uma planta - para cuidar da germinação de mais um jovem cientista em potencial. O investimento do mestre era a fundo perdido, mas para ele a chance de sucesso bastava. A troca de nomes sempre valeu a pena, pois fertilizava o mundo.

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Sidarta Ribeiro é Ph.D. em neurobiologia pela Universidade Rockefeller e pesquisador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN). Fez pós-doutorado na Universidade Duke (2000-2005) investigando as bases moleculares e celulares do sono e dos sonhos e o papel de ambos no aprendizado.

Guerra de nervos no trabalho

Mente e Cérebro
edição 173 - Junho 2007
Frustração, irritação, uso de drogas e passividade durante o tempo livre podem ser sinal de stress ocupacional; as conseqüências para a saúde se tornam mais dramáticas com o envelhecimento
por Anna-Marie Metz e Heinz-Jürgen Rothe

O stress no trabalho é uma das principais causas de absenteísmo e acidentes. Estudo feito pelo governo britânico em 2000 estimou em cerca de 40 milhões as faltas ao trabalho, em apenas um ano, devido a distúrbios relacionados ao stress. Nos Estados Unidos, esse número chega a 550 milhões de faltas por ano. O médico americano Martin Moore-Ede, um dos maiores especialistas do mundo em fadiga laboral, calculou, em 1993, o custo mundial dos acidentes − na indústria, no trânsito e no campo − em cerca de 60 milhões de dólares por ano. Mais do que um tema de segurança ocupacional, o stress é, portanto, uma fonte importante de prejuízos econômicos. A situação tem se agravado nas últimas décadas devido à crescente precarização das relações de trabalho, ao ritmo acelerado das grandes cidades, à pressão por eficiência, ao ambiente cada vez mais competitivo e ao medo do desemprego.

No entanto, alguns dados enganam. Embora diversos indicadores sugiram que a prevalência de doenças ocupacionais venha caindo nos últimos anos, isso não deve ser tomado como sinal de melhora da saúde da população economicamente ativa. O que as estatísticas não mostram é que o número de doenças crônicas e degenerativas nos idosos aumenta dramaticamente, até por causa do envelhecimento populacional. Ao que tudo indica, os jovens conseguem lidar razoavelmente bem com os fatores estressores no ambiente de trabalho. É mais tarde, porém, quando o indivíduo já está aposentado, que os prejuízos para a saúde se tornam perceptíveis.

Lugar-comum
A frase “Estou estressado” já virou lugar-comum. Entretanto, não há consenso sobre a definição de stress ocupacional. Segundo o Instituto de Saúde e Segurança Ocupacional dos Estados Unidos, “o stress ocupacional é uma resposta física e emocional nociva que ocorre quando as exigências do trabalho superam as habilidades, os recursos e as necessidades do trabalhador”. Para o departamento de emprego e assistência social da União Européia trata-se “de uma reação cognitiva, comportamental e fisiológica a aspectos aversivos e perniciosos do ambiente e da organização do trabalho. É um estado caracterizado por altos níveis de alerta, angústia e frustração por não se conseguir lidar com o problema”.

De certa forma, todas as definições contemplam a variedade de aspectos dessa complexa questão. Para simplificar, porém, podemos entender o stress como um desgaste físico e principalmente psíquico. A pessoa estressada sente que algo de si está sendo consumido. As fontes desse desgaste, que alguns chamam de fatores estressores, são variadas e podem ser divididas em três domínios: o do conteúdo do trabalho, o da função que o indivíduo ocupa e o das condições ambientais e organizacionais do trabalho (ver tabela 1).

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Anna-Marie Metz e Heinz-Jürgen Rothe São psicólogos e professores de psicologia do trabalho da Universidade de Potsdam, Alemanha. Tradução: Renata Dias Mundt

Os riscos de trocar o dia pela noite

Mente e Cérebro
edição 180 - Janeiro 2008

A Organização Mundial da Saúde adverte: o trabalho em turnos fixos ou irregulares pode causar câncer

Quem trabalha em turnos tem maior risco de desenvolver câncer. A advertência é da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (AIPC) da Organização Mundial da Saúde (OMS), que acaba de classificar o trabalho em turnos, fixos ou irregulares, como possível agente carcinogênico, o que o coloca na mesma categoria do tabaco, da radiação ultravioleta e das drogas anabolizantes. As evidências que motivaram tal medida foram publicadas em dezembro de 2007 na revista The Lancet Oncology.

Os pesquisadores examinaram oito estudos epidemiológicos e constataram que em seis o trabalho em horários irregulares se associou a um pequeno aumento na incidência de tumores. Imagina-se que a perturbação crônica dos ritmos circadianos, que regulam o sono, a temperatura corporal e a secreção de diversos hormônios, predisponha o organismo ao desenvolvimento de células malignas. Cerca de 20% da população ativa mundial trabalha em turnos, principalmente no setor de saúde, transporte e comunicação.

GRANDES ACIDENTESEm maio de 2007 as pesquisadoras brasileiras Cláudia Moreno, Frida Marina Fischer e Lúcia Rotenberg abordaram na Mente&Cérebro os riscos individuais e coletivos ligados à inversão dos horários de trabalho. Pouca gente sabe, mas grandes acidentes de repercussão mundial, como o desastre nuclear de Chernobyl e a explosão do ônibus espacial Challenger estão relacionados a jornadas excessivas de trabalho de pessoas que haviam dormido muito pouco nos dias anteriores. Leia mais no artigo “A sociedade 24 horas”.