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sábado, 6 de junho de 2009

Novo estudo reafirma a associação entre agrotóxicos e o desenvolvimento da Doença de Parkinson

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] Ainda não são conhecidas as causas da Doença de Parkinson (DP), a segunda mais frequente doença neurodegenerativa, apenas atrás da Doença de Alzheimer. No entanto, as pesquisas mais recentes já identificam fatores de risco, principalmente a associação de fatores ambientais e suscetibilidade genética. Estudos recentes já associam a exposição a agrotóxicos e o aumento do risco de desenvolvimento da DP.

Agora, um novo estudo epidemiológico [Professional exposure to pesticides and Parkinson's disease] avaliou a exposição de agricultores franceses aos agrotóxicos, especialmente organoclorados, e o risco de desenvolvimento da Doença de Parkinson (DP). O estudo [Professional exposure to pesticides and Parkinson's disease] foi publicado na revista Annals of Neurology, publicação oficial da American Neurological Association.

A pesquisa foi coordenada por Alexis Elbaz M.D., Ph.D., do Inserm, o instituto nacional frances em pesquisas de saúde e da University Pierre et Marie Curie (UPMC, Paris 6). Os estudos foram realizados a partir de registros individuais de agricultores afiliados aos sistema francês de saúde para a agricultura (Mutualité Sociale Agricole), a partir dos registros de exposição profissional e continuada a agrotóxicos.

É um estudo oficial e detalhado, que avaliou o históricos médico dos participantes, o tipo de agrotóxico e a intensidade da exposição. Também foram avaliadas as propriedades rurais em termos de localização e área, tipo de cultura agrícola, período do ano de aplicação dos agrotóxicos e forma de aplicação.

O estudo avaliou os agrotóxicos por finalidade (inseticidas, herbicidas e fungicidas) tendo concluído que os participantes continuamente expostos aos agrotóxicos eram mais suscetíveis ao desenvolvimento da DP. No caso dos inseticidas, os participantes expostos tinham o dobro da possibilidade de desenvolver a Doença de Parkinson do que os não expostos aos inseticidas.

Este é mais um estudo a confirmar a hipótese de que fatores ambientais como a exposição aos agrotóxicos devem ser considerados como fatores de risco no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.

O estudo avaliou a exposição direta aos agrotóxicos, mas ainda devem ser melhor estudadas as exposições indiretas, pelo ar, pela água e pelos alimentos, o que deve ampliar, significativamente, as populações expostas aos fatores de risco.

Estudos [Parkinson's Disease and Residential Exposure to Maneb and Paraquat From Agricultural Applications in the Central Valley of California e Dopamine transporter genetic variants and pesticides in Parkinson’s disease ] anteriores já haviam demonstrado esta associação [in Pesquisa relaciona a exposição a agrotóxicos com o aumento do risco de desenvolvimento da doença de Parkinson]

Como informação complementar sugerimos que, também, consultem as seguintes fontes:

A fetal risk factor for Parkinson’s disease.
Barlowa, BK, EK Richfielda, DACory-Slechtab, M Thiruchelvamb. 2004.
Developmental Neuroscience 26:11-23.

Parkinson’s disease and residential exposure to maneb and paraquat from agricultural applications in the Central Valley of California.
Costello, S, M Cockburn, J Bronstein, X Zhang and B Ritz. 2009.
American Journal of Epidemiology 169: 919-926.

5? and 3? region variability in the dopamine transporter gene (SLC6A3), pesticide exposure and Parkinson’s disease risk: a hypothesis generating study.
Kelada, SN, H Checkoway, SL Kardia, CS Carlson, P Costa-Mallen, DL Eaton, J Firestone, KM Powers, PD Swanson, GM Franklin, WT Longstreth, Jr, T-S Weller, Z Afsharinejad and LG Costa. 2006.
Human Molecular Genetics 15(20):3055-3062.

Developmental exposure to the pesticides paraquat and maneb and the Parkinson’s disease phenotype.
Thiruchelvam, M, EK Richfield, BM Goodman, RB Baggs and DA Cory-Slechta. 2002.
NeuroToxicology 23:621-633.

O artigo “Professional exposure to pesticides and Parkinson’s disease”, Annals of Neurology, de
Alexis Elbaz, Jacqueline Clavel, Paul J. Rathouz, Frédéric Moisan, Jean-Philippe Galanaud, Bernard Delemotte, Annick Alpérovitch, Christophe Tzourio, apenas está disponível para assinantes.

Abaixo, para maiores informações, transcrevemos o abstract:

Objective.
We studied the relation between Parkinson’s disease (PD) and professional exposure to pesticides in a community-based case-control study conducted in a population characterized by a high prevalence of exposure. Our objective was to investigate the role of specific pesticide families and to perform dose-effect analyses.

Methods.
PD cases (n=224) from the Mutualité Sociale Agricole (MSA, France) were matched to 557 controls free of PD affiliated to the same health insurance. Pesticide exposure was assessed using a two-phase procedure, including a case-by-case expert evaluation. Analyses of the relation between PD and professional exposure to pesticides were first performed overall and by broad category (insecticides, fungicides, herbicides). Analyses of 29 pesticide families defined based on a chemical classification were restricted to men. Multiple imputation was used to impute missing values of pesticide families. Data were analyzed using conditional logistic regression, both using a complete-case and an imputed dataset.

Results.
We found a positive association between PD and overall professional pesticide use (OR=1.8, 95% CI=1.1-3.1), with a dose-effect relation for the number of years of use (p=0.01). In men, insecticides were associated with PD (OR=2.2, 95% CI=1.1-4.3), in particular organochlorine insecticides (OR=2.4, 95% CI=1.2-5.0). These associations were stronger in men with older onset PD than in those with younger onset PD and were characterized by a doseeffect relation in the former group.

Interpretation.
Our results lend support to an association between PD and professional pesticide exposure and show that some pesticides (i.e., organochlorine insecticides) may be more particularly involved. Ann Neurol 2009
Received: 7 November 2008; Revised: 23 February 2009; Accepted: 20 March 2009

[EcoDebate, 06/06/2009]

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Sobre o mesmo tema leiam, também:

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Gordura atrai gordura

Por Carlos Fioravanti

Revista Pesquisa FAPESP – Quem aprecia uma picanha malpassada e principalmente a camada branca de gordura que a envolve talvez se inquiete. Um tipo de gordura – os ácidos graxos saturados de cadeia longa, encontrados principalmente em carnes vermelhas – pode ser uma das causas da obesidade.

De acordo com experimentos realizados em camundongos, essas moléculas acionam uma inflamação no hipotálamo, na base do cérebro, que leva à destruição dos neurônios que controlam o apetite e a queima de calorias.

“Talvez tenhamos encontrado uma explicação para a dificuldade de as pessoas obesas controlarem a fome e perderem peso, mesmo que adotem dietas severas para emagrecer”, diz Lício Velloso, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que coordenou esse estudo, publicado em janeiro no Journal of Neuroscience.

Os estudos anteriores da equipe de Velloso e de outros grupos já haviam mostrado que a obesidade era uma doença que começava no cérebro ou nos músculos, induzida por dietas com excesso de açúcares ou de gorduras. Esse excesso gerava resistência ao hormônio insulina, que carrega a glicose para as células, onde é transformada em energia, e induz ao consumo contínuo de alimentos.

Testes com animais já haviam mostrado que dietas ricas em gordura em geral danificavam o hipotálamo mais intensamente que as ricas em açúcares. Para ver qual tipo de gordura era mais danoso, os pesquisadores da Unicamp injetaram diferentes tipos de ácidos graxos de origem animal ou vegetal no hipotálamo de camundongos.

Os encontrados no óleo de soja mostraram um efeito tênue sobre o cérebro, enquanto os encontrados em gorduras animais e em proporção menor no óleo de amendoim apresentaram ação mais danosa.

Clique aqui para ler o texto completo na edição 156 de Pesquisa FAPESP.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Série do Globo Repórter tudo a ver

Eis uma série de reportagens do Globo Repórter selecionadas pala shiatsuterapêuta Karen Sasada Sato que têm tudo a ver com o trabalho aqui na Academia de Saúde Honno!

http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-20462-3-333362,00.html (DO-IN)

http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-20462-3-333354,00.html (GINÁSTICA CHINESA - Lian Kung)

http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-20462-3-333352,00.html (ACUPUNTURA ANALGÉSICA - Craniopuntura de Yamamoto)

http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-20462-3-333351,00.html (ACUPRESSÃO AJUDA VÍTIMAS DA ENCHENTE DE SANTA CATARINA)

http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-20462-3-333350,00.html (MEDICINA ANTROPOSÓFICA)

http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-20159-3,00.html (
ALIMENTAÇÃO VIVA - SET/2008)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

OMS aponta as principais causas de morte


Sandra Pereira
Em todas as regiões do planeta, os homens de 15 a 60 anos correm maior risco de morte do que as mulheres na mesma faixa etária, apontou a OMS (Organização Mundial da Saúde), no relatório 'O estado da saúde mundial', lançado no dia 4 de outubro. As razões para a diferença na mortalidade entre os sexos estariam nos problemas cardíacos, de que os homens são as maiores vítimas, e na violência e conflitos sociais, sobretudo na América Latina, Oriente Médio e Europa oriental. O relatório, divulgado a cada cinco anos, traz informações sobre os 193 países-membros da OMS.

De acordo com a organização, as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no mundo, superando aids e tuberculose. No entanto, as infecções respiratórias matam mais nos países pobres, onde a malária também aparece com 3,3% do total de mortes. No bloco das nações mais ricas, a aterosclerose coronariana e o AVC são as principais causas de óbitos, seguidas de diferentes formas de câncer. Na África, a Aids continua ocupando o primeiro lugar no ranking das causas de mortes entre os adultos. Já os europeus dessa faixa etária morrem mais de doenças cardiovasculares e ferimentos.

O documento calcula que anualmente 10,4 milhões de crianças morrem no mundo, metade delas na África. Mas os dados variam muito quando analisados por região e escala de desigualdade. Na África, metade da população morre antes de completar 16 anos. Já nos países ricos, apenas 1% das mortes envolve jovens, porque a maior mortalidade é entre pessoas com mais de 60 anos.

A OMS informa ainda que, em 2004, ano de referência do relatório, 2 milhões de pessoas morreram de aids. O número deve atingir 2,4 milhões em 2012, mas, segundo a organização, as campanhas, o acesso a medicamentos e os programas de ajuda podem mudar essa tendência. No momento atual, a aids já não aparece entre as dez maiores causas de morte nos países ricos. Nos países mais pobres, o HIV ainda é a quarta maior causa de óbitos. No entanto, a organização revela que as mortes vinculadas à aids cairão para décimo lugar até 2030. Em contrapartida, as mortes por acidentes de automóveis com vítimas fatais vão aumentar de 1,3 milhão para 2,4 milhões e passarão a ser o quinto maior responsável por mortes no mundo.

Outro fator importante será o envelhecimento das populações, resultante do desenvolvimento econômico, afirma o estudo. O número de mortes por câncer vai aumentar e as doenças não-transmissíveis serão responsáveis por 75% das mortes no mundo. O câncer passará de 7,4 milhões de vítimas em 2004 para 11,8 milhões em 2030.

A violência também é identificada pelo relatório como fator que afeta a saúde da população, em especial na América Latina, em função do crescimento das mortes e traumas decorrentes dos conflitos sociais.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Estudo aponta que doenças do aparelho circulatório são as que mais matam no Brasil

da Agência Brasil

Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira pelo Ministério da Saúde aponta que as chamadas doenças da modernidade são as que mais matam homens e mulheres no Brasil. A publicação "Saúde Brasil 2007" revela crescimento no número de mortes provocadas por doenças crônicas e violentas. As doenças do aparelho circulatório --associadas à má alimentação, ao consumo excessivo de álcool, ao tabagismo e à falta de atividade física-- lideram o ranking.

De acordo com o estudo, 283.927 pessoas morreram em 2005 por problemas do aparelho circulatório --32,2% do total de mortes registrado no ano.

No levantamento por regiões, as doenças do aparelho circulatório também são as que mais matam, com taxas de 33% no Sudeste, 32,9% no Sul, 31,9% no Nordeste, 31% no Centro-Oeste e 24,9% no Norte.

O perfil de mortalidade, segundo o ministério, revela mudanças provocadas, por exemplo, pela urbanização rápida. No passado, doenças infecciosas e parasitárias como as diarréias, a tuberculose e a malária estavam entre as principais causas de morte no país.

Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde indicam que, em 1930, as doenças infecciosas respondiam por cerca de 46% das mortes nas capitais brasileiras enquanto em 2003, tais doenças representavam apenas 5% do total de óbitos. Já as doenças cardiovasculares --que respondiam por apenas 12% na década de 30-- são apontadas pela pesquisa como as principais causas de morte em todas as regiões do país, responsáveis por quase um terço das mortes.

Ao detalhar as causas específicas, o levantamento indica que o AVC (Acidente Vascular Cerebral) é o que mais mata --em 2005, foram mais de 90 mil. O número representa 31,7% das mortes decorrentes de problemas circulatórios e 10% do total de óbitos no país.

A segunda maior causa específica, de acordo com o ministério, é a Doença Isquêmica do Coração, com destaque para o infarto que, em 2005, matou 84.945 pessoas --9,4% do total de mortes do país.

Os dados utilizados na publicação foram coletados no SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) do Ministério da Saúde, que capta os óbitos ocorridos no país dentro ou fora de ambiente hospitalar e com ou sem assistência médica. De acordo com o ministério, a tendência de morte não varia muito em um curto período de tempo e as informações refletem a atual situação da mortalidade no país.

Em 2005, o SIM captou 1.006.827 óbitos em todo o país --um coeficiente de 5,5 mortes por mil habitantes. A base populacional utilizada foi a estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o ano de 2005 --184.184.074 habitantes.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Mudança nos costumes alimentares levam muitos a hospitais

Karla Correia e Luciana Abade, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Aos 32 anos, Helena Leal Rodrigues já fez duas cirurgias cardíacas para trocar válvulas de seu coração. Sofre com o colesterol alto e hipertensão, controlada a base de medicamentos.

Não pode trabalhar nem realizar esforço físico por conta de uma cardiopatia – diagnosticada aos 15 anos, em um exame rotineiro para permitir a prática de educação física no colégio – agravada ao longo do tempo pela dieta pesada em gorduras e sal.

Até a sua segunda cirurgia, conta, ninguém a havia alertado sobre a necessidade de hábitos alimentares saudáveis. O que, em seu caso, significaria cortar sódio e gorduras, além de aumentar o consumo de verduras ricas em vitamina K.

– Com uma dieta mais adequada, talvez eu não tivesse tantos problemas quanto eu tenho hoje – diz Helena, casada, mãe de uma filha de nove anos.

Como ela não pode trabalhar, a família se sustenta com o salário de seu marido, Evangelista Rodrigues, garçom. Internada no Hospital Universitário de Brasília (HUB), ela espera o conserto de um aparelho no Instituto do Coração (Incor-DF) para realizar um cateterismo.

– Não posso fazer nada por causa da minha saúde. Há três anos que eu não trabalho. Eu era supervisora em um restaurante. Hoje, não tenho energia nem para subir uma escada, quanto mais para trabalhar.

Dois mundos
Helena é o retrato das mudanças de hábitos alimentares de uma fatia expressiva da sociedade brasileira que, com a elevação do seu poder aquisitivo, passou a ter acesso a alimentos industrializados, ricos em sódio e gorduras saturadas, mas continua sem alcançar um grau satisfatório de atenção na rede pública de saúde.

Só muito recentemente, conta, teve acesso a nutricionista e informações sobre cuidados necessários com sua alimentação.

– Ainda não vencemos a guerra contra doenças tropicais por conta da falta de saneamento, de acesso a esgoto, de investimento em campanhas duradouras de erradicação de mosquitos como o da dengue – observa o infectologista Ivo Castelo Branco.
– E, mesmo assim, temos de conviver com o crescimento do número de casos de hipertensão, obesidade e doenças cardíacas em geral. Que são fruto do acesso a alimentos industrializados, do sedentarismo – que vem da automatização do trabalho, da migração do meio rural para o urbano.

São reflexos simultâneos do desenvolvimento e do subdesenvolvimento na mesma população.

Campanhas tardias
Com a sobrecarga no sistema de saúde, surtos de doenças que já deveriam estar erradicadas no território nacional tornam-se comuns. Na década de 90, uma ameaça de epidemia de cólera pôs o Ministério da Saúde em estado de alerta. No ano passado, tivemos surtos de febre amarela e rubéola.

A campanha de vacinação deflagrada para combater a epidemia chegou atrasada para Rafael Parucker, 25 anos, bacharel em Direito. No segundo semestre de 2007, Rafael começou a sentir dores fortes na garganta, articulações, cabeça e olhos, febre e manchas por todo o corpo. De início, os médicos suspeitaram se tratar de dengue. Só o exame laboratorial deixou claro que era rubéola.

– Fiquei de cama durante uns cinco dias e ainda contaminei meu irmão e dois colegas de faculdade – lembra Rafael.

Altamente contagiosa, a doença chamou a atenção do Ministério da Saúde, que mobilizou uma campanha para a vacinação de 30 milhões de pessoas nos meses seguintes, o que daria o direito ao país de solicitar à Organização Mundial da Saúde (OMS) o certificado de erradicação desse mal, que ataca principalmente homens mas tem seus piores efeitos em bebês cujas mães contraíram a doença quando grávidas.

Novos riscos

O que mais preocupa os especialistas, no entanto, é a possibilidade do ressurgimento de doenças já controladas em versões mais resistentes aos medicamentos conhecidos. É o caso da tuberculose.

A doença, de tratamento prolongado e penoso para o paciente, desenvolve facilmente variedades resistentes a medicamentos, no caso de tratamento interrompido. Na opinião do professor da UnB, José Ricardo Marins, os gestores públicos não tratam a tuberculose com seriedade. É preciso treinar pessoas para acompanhar os pacientes, já que muitos desistem do tratamento por causa dos severos efeitos colaterais.

A mesma negligência, segundo o professor, ocorre com a hanseníase. Nesse caso, o problema é o diagnóstico tardio, motivo principal das deformações apresentadas por pacientes.

Estudo liga pouco sono a câncer de mama

BBC, 03 de novembro, 2008
Ligação pode ser na produção de melatonina

Mulheres que regularmente dormem seis horas ou menos por noite podem estar aumentando o risco de ter câncer de mama em mais de 60%, segundo um estudo de pesquisadores japoneses.
O estudo, realizado por uma equipe da Tohoku University Graduate School of Medicine in Sendai, no Japão, foi publicado na revista acadêmica British Journal of Cancer.

Os cientistas analisaram os hábitos de quase 24 mil mulheres com idades entre 40 e 79 anos durante oito anos. Nesse período, 143 foram diagnosticadas com câncer de mama.

Eles descobriram que aquelas que dormiam regularmente seis horas ou menos por noite tinham 62% mais chances de ter câncer de mama comparado com as que dormiam regularmente sete horas.

Além disso, mulheres que dormiam, em média, nove horas por noite tinham 28% menos chances de ter o tumor.

Os cientistas acreditam que a ligação pode estar no hormônio melatonina, produzido pelo cérebro durante o sono para regular o relógio interno do corpo. A melatonina teria um papel importante na prevenção do câncer de mama ao controlar a quantidade de hormônios sexuais que é liberada.
Eles afirmam, no entanto, que não tiveram informações sobre a qualidade do sono das mulheres, o uso de remédios para dormir ou a presença de problemas na hora de dormir.

A organização Cancer Research UK disse que um "número crescente de estudos" aponta para uma ligação entre falta de sono e câncer.

"A evidência atual sugere que hábitos na hora de dormir podem ter um pequeno efeito no risco de câncer de mama", disse Henry Scowcroft, da Cancer Research UK ao jornal Daily Mail.
"Mas ainda é muito cedo para dizer se esse efeito é importante quando comparado com outros fatores de risco no estilo de vida, como peso, exercícios e consumo de álcool", concluiu.

Sinal de alerta

Stress crônico deixa as pessoas doentes. De que forma? Como podemos prevenir seus efeitos nocivos?
por Hermann Englert

Acessos de raiva, ataques do coração, enxaqueca, úlceras no estômago, síndrome do intestino irritável, perda de cabelo nas mulheres - o stress é o culpado por todas essas doenças e muitas outras. A Natureza dotou nossos antepassados pré-históricos de uma ferramenta para ajudá-los a enfrentar ameaças: um sistema rápido de ativação capaz de aguçar a atenção, acelerar as batidas do coração, dilatar os vasos sangüíneos e preparar os músculos para lutar ou fugir do urso que invadia a caverna.

Porém, nós, os humanos modernos, estamos constantemente sujeitos ao stress decorrente de trânsito, prazos, contas, chefes coléricos, companheiros irritadiços, barulho e, ainda, de pressão social, doenças físicas e desafios intelectuais. Como resultado, muitos órgãos de nosso corpo são atingidos por uma descarga implacável de sinais de alarme que podem danificá-los e prejudicar a saúde.

Mas o que exatamente acontece no cérebro e no corpo quando estamos estressados? Quais órgãos são ativados? Quando os alarmes começam a causar problemas críticos? Somente agora estamos formulando um modelo coerente para explicar como o stress contínuo nos causa mal, mas já encontramos possíveis pistas para aliviar as agressões.

O Caminho para a Sobrecarga
Nas últimas décadas, os pesquisadores identificaram diversas partes do cérebro e do corpo que contribuem, de forma considerável, para a reação ao stress - o modo como respondemos aos estressores externos. Essas regiões processam informação sensorial e emocional e se comunicam com uma vasta rede de nervos, órgãos, vasos sangüíneos e músculos, realocando as reservas de energia do corpo, de modo que possamos avaliar e reagir às situações.

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Hermann Englert é biólogo e escritor científico em Frankfurt, Alemanha.

Esgotamento Total

Mente e Cérebro
Com esforço e perseverança tudo se alcança, reza a lenda. Mas cuidado: o excesso de trabalho e o stress prolongado podem causar a síndrome de burnout, provocando dores, irritação e depressão .
por Ulrich Kraft

Quando pôs a mão no diploma de administração, há nove anos, Lauro N. era um exemplo de jovem com "alto potencial." Tinha 28 anos, nenhum vínculo, mostrava-se ávido para aprender e, graças à excepcional qualificação, predestinado a ter uma carreira esplêndida.

Lauro de fato fez valer todo seu potencial. Começou como consultor organizacional e logo chegou a uma posição de comando. Carro da empresa, bom salário, responsabilidade. Porém, em troca do sucesso profissional, teve de se sujeitar a certas rotinas. Freqüentes viagens, muitas noites em hotéis, 60 a 80 horas de jornada semanal e compromissos nos fins de semana - durante anos. "De vez em quando, eu sentia quanto era puxado, mas, por muito tempo, toda aquela exigência, o trabalho sob pressão e os níveis de excelência que eu mesmo me impunha me davam enorme prazer, um verdadeiro barato", conta.

Um "barato" que terminou no hospital. Um dia, Lauro despencou. Sentiu fortes dores de cabeça, tontura e taquicardia. No diagnóstico, a surpresa: síndrome do esgotamento profissional. O consultor tinha adoecido em virtude dos anos de sobrecarga no trabalho.

Variados Sintomas
Também chamada síndrome de burnout, a enfermidade deve o nome ao verbo inglês "to burn out" - queimar por completo, consumir-se - e ao psicanalista nova-iorquino Herbert J. Freudenberger, que a nomeou no início dos anos 70. Ele constatou em si mesmo que sua atividade profissional, que tanto prazer lhe dera no passado, só o deixava cansado e frustrado. Também notou em muitos de seus colegas, antes apaixonados por seu ofício, a estranha mutação que os transformava em cínicos depressivos, capazes de tratar os próprios pacientes com crescente insensibilidade e desinteresse.

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Ulrich Kraft é médico e jornalista científico.

Os riscos de trocar o dia pela noite

Mente e Cérebro
edição 180 - Janeiro 2008

A Organização Mundial da Saúde adverte: o trabalho em turnos fixos ou irregulares pode causar câncer

Quem trabalha em turnos tem maior risco de desenvolver câncer. A advertência é da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (AIPC) da Organização Mundial da Saúde (OMS), que acaba de classificar o trabalho em turnos, fixos ou irregulares, como possível agente carcinogênico, o que o coloca na mesma categoria do tabaco, da radiação ultravioleta e das drogas anabolizantes. As evidências que motivaram tal medida foram publicadas em dezembro de 2007 na revista The Lancet Oncology.

Os pesquisadores examinaram oito estudos epidemiológicos e constataram que em seis o trabalho em horários irregulares se associou a um pequeno aumento na incidência de tumores. Imagina-se que a perturbação crônica dos ritmos circadianos, que regulam o sono, a temperatura corporal e a secreção de diversos hormônios, predisponha o organismo ao desenvolvimento de células malignas. Cerca de 20% da população ativa mundial trabalha em turnos, principalmente no setor de saúde, transporte e comunicação.

GRANDES ACIDENTESEm maio de 2007 as pesquisadoras brasileiras Cláudia Moreno, Frida Marina Fischer e Lúcia Rotenberg abordaram na Mente&Cérebro os riscos individuais e coletivos ligados à inversão dos horários de trabalho. Pouca gente sabe, mas grandes acidentes de repercussão mundial, como o desastre nuclear de Chernobyl e a explosão do ônibus espacial Challenger estão relacionados a jornadas excessivas de trabalho de pessoas que haviam dormido muito pouco nos dias anteriores. Leia mais no artigo “A sociedade 24 horas”.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Antiinflamatórios podem prejudicar detecção de câncer de próstata

Época: 08/09/2008 - 15:49 - Atualizado em 08/09/2008 - 15:51

Um estudo americano sugere que o uso regular de antiinflamatórios do tipo não-esteróide, como aspirina e ibuprofeno, pode reduzir os níveis de PSA no sangue e dificultar a detecção da doença, uma vez que a concentração dessa substância determina o diagnóstico. Em breve os médicos poderão recomendar que os homens deixem de tomar esses remédios algum tempo antes de fazer os exames.
Cristiane Segatto

De todos os exames usados para detectar o câncer de próstata precocemente, um dos mais importantes é o PSA (antígeno específico da próstata). Com um simples exame de sangue, os médicos checam a quantidade dessa substância no organismo. Quando os níveis dela estão elevados, é bastante provável que um tumor maligno esteja se formando na próstata.

Um novo estudo lança um alerta sobre os cuidados necessários antes da realização desse exame. A pesquisa sugere que o uso regular de antiinflamatórios do tipo não-esteróides, como aspirina e ibuprofeno, pode reduzir os níveis de PSA no sangue. Os remédios parecem mascarar a quantidade do antígeno e, com isso, prejudicar a detecção precoce do câncer de próstata.

O estudo será um dos destaques da edição de outubro da revista científica Cancer, uma publicação da Sociedade Americana do Câncer. Os pesquisadores analisaram os níveis de PSA de 1,3 mil homens acima de 40 anos. Descobriram que as concentrações eram 10% mais baixas entre os consumidores de antiinflamatórios.

Considerando a quantidade de pessoas que tomam antiinflamatórios e o uso corriqueiro dos testes de PSA, é possível que o estudo tenha impacto sobre a vida prática. Em breve os médicos podem começar a recomendar que os homens deixem de tomar os antiinflamatórios algum tempo antes de fazer os exames.

Comida viva (Globo Repórter)





Reportagem: Ismar Madeira (Campos do Jordão, São Paulo)

Prato do dia: verduras, legumes, frutas e sementes germinadas. É a comida viva!

"Eu tomava remédio para pressão e não tomo mais. Emagreci dez quilos com uma alimentação natural que qualquer um pode fazer em casa", conta o aposentado Orlando Asse dos Santos.

Não é milagre. É o resultado da orientação médica, que seu Orlando recebeu em um posto de saúde de Campos do Jordão, em São Paulo. Tudo de graça, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi com o médico Alberto Gonzalez, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que ele e muitos outros pacientes começaram a aprender que comida é remédio.

"Há influências bastante claras na obesidade, na constipação, na inflamação crônica, na dislipidemia – que é o desequilíbrio do colesterol –, nas doenças gastrointestinais e respiratórias e no diabetes", aponta Alberto Gonzalez.

Mas, afinal, o que é comida viva? A receita é simples: nada pode ser cozido, frito ou assado. Os alimentos são de origem vegetal. E para começar bem o dia, um suco poderoso.

Se uma pessoa que não tem uma doença diagnosticada nem se sente mal resolver experimentar esse alimento vivo, que resultados vai sentir?

"É muito importante que eu, me apresentando como médico, diga que alimento vivo é bom para quem está doente, mas o alimento vivo é uma alimentação para quem está sadio e quer se manter sadio", esclarece Alberto Gonzalez.

Decidi experimentar. Em dez dias, que resultados eu veria?

"Em dez dias, vai haver uma grande liberação de água do seu corpo. Muita água retida vai ser eliminada. Você também vai notar mudanças no âmbito da digestão e da disposição, principalmente após as refeições, Você vai se sentir muito bem disposto", adiantou Alberto Gonzalez.

Doutor Alberto troca o jaleco pelo avental. Hora de arregaçar as mangas e mostrar como se prepara o suco. "O grande equipamento é um liquidificador. Depois de tudo lavado, você começa a fazer o suco. Primeiro, picota o pepino. O pepino vai para perto da hélice, porque ele é um grande gerador de água. Aí vem a maçã. Vamos extrair a água do pepino, da maçã e das verduras orgânicas disponíveis com uma cenoura. E, finalmente, as sementes de girassol germinadas. Você pode usar só trigo, girassol, quinoa, gergelim, amêndoa. O ideal é a semente germinada”, ensina Alberto Gonzalez.

Este é o grande segredo da comida viva: grãos germinados. E se você já está se perguntando como vai fazer para conseguir essas sementes, não se preocupe.

"Em seguida, coamos. Fica uma massa consistente. É um coador de voal, que qualquer um pode ter. As pessoas com mais recursos usam uma centrífuga. É o café da manhã. É bom que seja um copo grande. Tem pão, manteiga, café e leite, só que em forma natural, viva e repleta de nutrientes vivos", ressalta Alberto Gonzalez.

Não é um suco ralinho, parece um leite ou algo muito cremoso. É em um casarão que doutor Alberto Gonzalez ensina receitas de alimentos vivos. Alguns pacientes são encaminhados para o local e aprendem que, além do suco, podem fazer pratos coloridos e saudáveis, como a caldeirada de frutos do mato.

Legumes ralados, picadinhos. Basta prensar os alimentos, uma técnica feita com as mãos, para controlar a temperatura da panela. Afinal, nos chamados alimentos vivos, legumes e verduras não podem ser cozidos.

"Se começar a queimar as mãos, tem que desligar. Se não queimar a mão, não vai queimar os alimentos também", explica uma funcionária do hospital.

“A carne é uma questão de herança cultural. Eu não vou chegar em uma aldeia de pescadores e dizer: parem de comer peixe. Comam o peixe, mas incluam na sua vida os alimentos que vêm da mãe terra. Porque eles vêm com a informação que você precisa", diz Alberto Gonzalez.

"Não posso dizer que sou vegetariano. Uma vez por mês eu não recuso um churrasquinho, mas também não sou escravo da alimentação. Como tudo que eu gosto, com uma certa regra", conta seu Orlando.

"Sempre digo que tudo que é verde faz bem para o que é vermelho. Quem está com doença cardiovascular volte-se para o reino vegetal. Alimente-se de tudo que é verde possível que a recuperação cardiovascular vem a reboque", aconselha Alberto Gonzalez.

Em casa, seu Orlando segue a orientação diariamente e faz questão de plantar suas verduras: "Eu aproveito qualquer cantinho. Uma jardineirinha da loja de R$ 1,99, um pouquinho de terra e brota um trigo bonito".

A grama de trigo usada no suco nasce de sementes comuns compradas no supermercado e simplesmente jogadas por seu Orlando na terra. "Todos os espaços, o quintal do vizinho, por exemplo, eu coloquei trigo há 15 dias e já está nascendo. Temos couve e outras hortaliças espalhadas no meio da vegetação. Uso de sete a oito qualidades para fazer o suco por dia", conta.

Será que é mesmo tão fácil assim? Nos dez dias em que testamos o suco também experimentamos a preparação dele, até em cozinhas de hotel. Se eu consegui, qualquer um consegue.

Mas, antes, é bom lembrar: estávamos no restaurante de um hotel na cidade turística de Campos do Jordão, e as tentações estavam servidas. Eram 9h. Eu jantei no dia anterior, às 20h30. Ou seja, havia mais de 12 horas. O estômago já estava reclamando. A mesa do café da manhã era farta. Em vez de optar por tudo o que eu normalmente comeria, fiquei só com as frutas e o suco verde.

Logo pegamos a estrada. Acompanhamos doutor Alberto Gonzalez até a casa de um paciente. A viola dá o tom. O lavrador Benedito Vicente da Rosa leva uma vida simples. Mora com a mulher no alto de uma colina, em um lugar onde não tem luz elétrica. Mas sobram ar puro e produtos tirados da terra sem agrotóxicos. Faltava saber como aproveitar todos os seus nutrientes. Foi o que seu Benedito aprendeu nas consultas pelo SUS. Visitas periódicas fazem parte do Programa de Saúde da Família.

Há um ano, o lavrador mal conseguia ir ao posto de saúde, por causa de uma trombose na perna esquerda, uma ferida enorme não cicatrizava.

"Estava muito machucado, era uma ferida só. Tinha um roxo que parecia uma lesão só. Tomei o suco e fechou tudinho, foi uma beleza. Eu já estava até desenganado", comemora o lavrador.

Doutor Alberto Gonzalez explica: "Os vasos da perna dele não chegavam até a intimidade do tecido, por conta do problema vascular. O suco promoveu o fenômeno denominado neovascularização, de crescer novos capilares onde não tinha".

Mas o médico alerta: "Se você está usando remédios e quer mudar para o suco, consulte um profissional médico. A pessoa que tem um problema grave de pressão arterial ou problema grave de perfusão sanguínea do próprio coração não pode parar de tomar o remédio. Eu trabalho usando remédios e o suco. Os remédios vão sendo tirados à medida que os resultados com o suco vão aparecendo. E isso depende da adesão do paciente".

Seu Benedito se empenhou de verdade para ver o resultado. Afinal, o que já seria difícil na cidade grande poderia até ser impossível para quem vive sem energia elétrica – sem um liquidificador.

"Tentei socar no pilão, mas espirrou muito. Tive que inventar outro modo. Daí, foi no ralador. Achei que foi importante", diz seu Benedito, que colhe os ingredientes, rala e espreme tudo com as mãos. "É um verdadeiro remédio. A perna sarou que é uma beleza! Não tem mais nada, está forte. Já estou imaginando até jogar bola. Eu gostava muito de jogar bola. Fazer isso todo dia é difícil, mas sem esforço ninguém consegue nada".

A germinação dos grãos é que dá força ao alimento, potencializa os nutrientes. É o que garante a mais antiga pesquisadora da comida viva no Brasil, a designer e professora Ana Branco, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). A primeira semente foi ela que plantou. Há 15 anos, Ana Branco reúne conhecimentos que ela passa adiante.

Preste atenção: é o passo-a-passo para você também aprender a germinar as sementes na sua casa.

"Colocamos a semente de girassol de molho na água. Vamos dormir e a semente vai acordar. São oito horas de molho na água. É o tempo de dormirmos e ela acordar. Na manhã do dia seguinte, jogamos a água fora e deixamos escorrendo em algum apoio por mais oito horas. Depois de oito horas de molho na água e oito horas no ar, é só darmos uma lavadinha antes de consumirmos. Podemos olhar o que aconteceu com a semente germinada. Dá para ver o narizinho que está nascendo. Nesse ponto, podemos consumir. Assim, comemos a energia vital contida nela. E ficamos forte que nem ela", diz Ana Branco.

Para ela, uma filosofia de vida que germinou e deu frutos. Muitos já aprenderam os segredos da alimentação viva em cursos e em uma feira na PUC-RJ.

"Nós começamos com o suco quando eu estava grávida da minha terceira filha. Meu marido faz o suco, fazemos para a família toda. Isso já acontece há três anos", conta a professora Rosana Cunha Pinto. "O grande barato é chamar as crianças para fazerem junto com você. Pede para uma pegar uma maçã, pede para outra segurar uma hortelã. E assim a gente vai cortando e preparando o alimento junto".

Eu bebi suco durante dez dias. E não foi difícil, mesmo fora de casa, dormindo em hotéis, comendo em restaurantes. Logo no primeiro dia, eu fiz exames de sangue que mostraram que a minha saúde vai muito bem. Taxas como colesterol e glicose, por exemplo, estão ótimas. E, por causa disso, eu resolvi não mudar mais nada na minha alimentação. No almoço e no jantar, continuei comendo o que estou acostumado e gosto: arroz, feijão, carne.

Mesmo assim, substituindo só café da manhã, o suco fez efeito. Perdi 2,1 quilos. Eu também senti outras mudanças que não podem ser medidas. A primeira: comecei a sentir menos fome nos últimos dias. E a segunda: mudança no apetite. Já não tenho tido mais tanta vontade de comidas pesadas. Pode ser resultado do suco.

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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Paradoxo nutricional

25/8/2008

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – O Brasil vive uma transição nutricional paradoxal. Um estudo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública revela a prevalência crescente tanto de anemias como de obesidade no país. A pesquisa, que analisou trabalhos realizados nas últimas três décadas, aponta que essa tendência estaria associada a mudanças no consumo alimentar.

A pesquisa analisou 28 trabalhos publicados sobre anemia em crianças e mulheres em idade reprodutiva, considerando a representatividade estatística, padronização de técnicas laboratoriais e critérios recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para o estudo do sobrepeso e obesidade, o trabalho avaliou o Índice de Massa Corporal (IMC).

Participaram do trabalho pesquisadores do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (Imip) e do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz em Recife.

De acordo com Malaquias Batista Filho, do Imip, o estudo procurou se afastar do paradigma usado na maior parte das pesquisas, cuja referência é o enfoque isolado dos diagnósticos, particularmente no caso das doenças nutricionais, que são analisadas como “entidades próprias e autônomas”.

“A idéia foi juntar os dados em uma série cronológica desde 1974 para verificar se eles apontavam alguma tendência. Há três estudos que foram feitos com a mesma população em momentos diferentes, por isso são mais adequados a análise de tendências temporais. Os resultados revelam que, a cada década em que o exame foi feito, a desnutrição regrediu e a obesidade evoluiu”, disse Batista Filho à Agência FAPESP.

Embora o país venha superando o problema da fome, a nova pesquisa aponta as anemias como um problema em ascensão. Um dos estudos anteriores feito no município de São Paulo, cujos dados foram utilizados, foi o caso mais representativo: a prevalência do problema das anemias aumentou de 22% para 46,9% nas duas últimas décadas, entre as crianças menores de 5 anos.

Os outros dois trabalhos se referem aos estados da Paraíba e de Pernambuco, cuja tendência é de aumento das anemias em 10% a cada dez anos.

Batista Filho, que também é professor aposentado do Departamento de Nutrição da UFPE, ressalta que o problema da anemia não é exclusivo dos países subdesenvolvidos. A Europa tinha, segundo ressaltou, 20 milhões de pessoas anêmicas há uma década.

“Trata-se de um problema que foi progredindo na surdina, sem muitas denúncias. Hoje existem estimativas de que dois terços da população mundial podem ter anemia. Houve redução nas formas mais graves, mas houve ampliação em relação às formas leves e moderadas de anemia”, acrescentou.

Leite demais

Segundo Batista Filho, uma certa mitificação do leite na alimentação humana tem relação com o avanço da anemia. “O leite é muito importante na alimentação, mas ainda assim não pode ser considerado um alimento que necessariamente deve fazer parte da dieta para que exista condição para saúde normal. Ele não é rico em ferro e inibe o aproveitamento de ferro de outros alimentos. No estudo feito em São Paulo, verifica-se que, em grande parte, o leite está sendo co-responsável pela ocorrência de anemia em crianças”, disse.

As grandes mudanças na situação nutricional da população adulta resultaram, segundo a nova pesquisa, em um aumento do sobrepeso e obesidade. Em relação à evolução do estado nutricional, segundo o IMC, foi identificado um declínio no baixo peso e uma estabilização em níveis aceitáveis a partir de 1989, enquanto a obesidade triplicou em homens, elevando-se de 2,8% para 8,8%.

Entre as mulheres, a ocorrência de obesidade, que, inicialmente, era três vezes maior do que em homens, manteve-se praticamente estável em torno de 13% nas avaliações efetuadas em 1989 e 2003. No mesmo período, a prevalência de normalidade antropométrica, que era de 71,4% entre os homens em 1974, caiu para 47,4% na última avaliação. Entre as mulheres, a prevalência da normalidade antropométrica, segundo o IMC, declinou de 53,4% para 42,7%.

De acordo com Batista Filho, o novo paradigma nutricional gera a necessidade de se avançar para além dos problemas relacionados à fome. “Agora temos que pensar nos aspectos qualitativos da alimentação e não simplesmente compensá-la com calorias. Alimentação saudável não se reduz ao problema da fome, mas tem relação com vários outros aspectos nutricionais e de saúde.”

“Temos de retirar um pouco do centro da discussão a questão da fome em si, e colocar agora um tema bem mais amplo, que seria o da alimentação saudável para todos os ciclos de vida. Hoje, inclusive, se percebe que quando estamos cuidando da alimentação da criança estamos cuidando do escolar, da gestante, do trabalhador e das populações idosas do futuro”, reforçou.

Para ler o artigo Anemia e obesidade: um paradoxo da transição nutricional brasileira, de Malaquias Batista Filho e outros, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Hábitos diferentes, riscos novos

14/04/2008

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Os hábitos de vida do Ocidente podem estar deteriorando a saúde da população nipo-brasileira. Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entre 1993 e 2007, em Bauru (SP), indicou uma alarmante prevalência de diabetes e fatores de risco cardiovascular entre descendentes de japoneses.

No entanto, a fase final do estudo, que consistiu em uma intervenção junto a essa população, demonstrou que algumas mudanças na dieta e a prática de atividades físicas podem ser medidas efetivas para combater o problema.

A primeira fase da pesquisa, em 1993, indicou que a prevalência de diabetes entre os descendentes de japoneses era de 20%, em média, contra 7,5% na população brasileira em geral. Em 2000, a segunda fase revelou que o problema havia se agravado: a prevalência de diabetes entre nipo-brasileiros era de 35%.

Os resultados da segunda fase – um Projeto Temático apoiado pela FAPESP – foram publicados na mais recente edição da revista Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia. A terceira fase foi realizada entre 2005 e 2007.

De acordo com a autora principal do artigo, Antonela Siqueira, que atualmente é pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), os descendentes de japoneses têm uma predisposição genética aos males causados por fatores típicos do cotidiano ocidental, como sedentarismo, estresse e alimentação rica em gordura e açúcar.

“A primeira fase do estudo indicou que a prevalência de diabetes entre os nipo-brasileiros era quase o triplo do resto da população. Em 2000, começamos a estudar a presença da síndrome metabólica – o conjunto de fatores de risco cardiovascular, que inclui diabetes, hipertensão arterial, distúrbios lipídicos e obesidade”, disse Antonela à Agência FAPESP.

Bauru foi escolhida, segundo a pesquisadora, por ter uma comunidade nipo-brasileira ampla e pouco miscigenada, com fácil acesso ao hospital em que foram feitas as análises clínicas. Em 1993, foram avaliados 647 indivíduos de 40 a 79 anos, descendentes de primeira e segunda geração. Em 2000, o estudo foi ampliado para 1.330 indivíduos.

“Em 2000, estudamos também os fatores dietéticos que poderiam contribuir para a prevalência da síndrome metabólica, que, conforme detectamos nessa época, era maior que 5%. O aumento do diabetes nos surpreendeu: passou de 20% para 35% em apenas sete anos”, afirmou.

Embora a população nipo-brasileira não tenha uma obesidade importante, os voluntários apresentaram alta taxa de gordura visceral. “O que importa para essas doenças é a cintura abdominal e não a obesidade periférica. Para os nipo-brasileiros, gordura no abdome significa perigo para a saúde. Os problemas aparecem quando a medida passa de 102 centímetros, para um homem ocidental, ou dos 90 centímetros, para um oriental”, apontou.

Os pesquisadores detectaram um aumento de glicemia – ou perda de tolerância à glicose –, que foi associado principalmente ao consumo exagerado de carboidratos refinados, sem fibra, como pão e arroz não-integrais.

“A alta prevalência de síndrome metabólica foi associada a um aumento no consumo de gordura saturada, que aumenta o colesterol ruim. A avaliação longitudinal mostrou que o fator que mais contribuiu para isso foi um consumo exagerado de carne vermelha”, disse Antonela.

O estudo transversal analisou de uma só vez, em uma série de exames, a condição da população de descendentes de japoneses naquele momento e mostrou que todos os indicadores ligados à síndrome metabólica haviam aumentado entre 1993 e 2000.

“Havia aumento do colesterol, do diabetes e principalmente dos triglicérides – associados ao açúcar –, que apareceram aumentados em 66% da população. Enquanto o nível normal é de 150 mg/dL, a média entre os nipo-brasileiros ficou em 240 mg/dL. Alguns indivíduos tinham valores próximos de mil”, afirmou.

A prevalência de doença cardiovascular – que pode resultar em infarto, derrame, obstrução arterial periférica e arteriosclerose, atingiu 14% da população analisada. “Se fosse em idosos, essa prevalência não poderia ser considerada muito alta. Mas, para uma população a partir de 30 anos, é altamente preocupante”, disse Antonela.


Ação efetiva

De acordo com Bianca de Almeida Pitito, doutoranda da Unifesp que participou da terceira fase do estudo, a partir dos resultados da pesquisa de 2000 o grupo começou a planejar um programa de intervenção.

“Ao constatar que o diabetes havia aumentado tão drasticamente em sete anos e que havia prevalência da síndrome metabólica, concluímos que, se nada fosse feito, a tendência era que dentro de mais alguns anos os problemas ficassem ainda mais graves. Por isso, planejamos a intervenção”, disse Bianca à Agência FAPESP.

Com uma equipe interdisciplinar, contando com nutricionistas e educadores físicos, os pesquisadores fizeram a intervenção focada em orientação para mudanças na dieta e estímulo à atividade física. O programa não incluiu aplicação de medicação.

Segundo Bianca, o objetivo era comparar as condições de saúde dos voluntários no início e no fim do programa. “Como havíamos detectado o problema, não seria ético deixar parte da população sem acesso ao programa, por isso não houve condições para trabalhar com um grupo de controle”, explicou.

Foram feitas três avaliações clínicas: a primeira no início da intervenção, em 2005, a segunda em 2006 e a terceira no fim do programa, em 2007. “Foram feitos exames para verificar pressão sangüínea, peso, circunferência da cintura, colesterol, triglicerídeo e glicose. Foram avaliados 653 indivíduos”, disse.

Depois de um ano de intervenção, segundo Bianca, foi detectada uma melhora sensível em todos os parâmetros: obesidade central, glicemia, perfil lipídico, colesterol, pressão sangüínea e gordura abdominal.

“A redução desses fatores ocorreu apenas com a mudança de dieta e de padrões de atividade física, o que mostra que a mudança de hábitos pode ser fundamental para prevenir a síndrome metabólica”, afirmou.

Segundo a pesquisadora a melhora de todos os indicadores em apenas um ano, ainda que não tenha sido drástica, pode ter grande impacto do ponto de vista populacional. Os resultados da análise de 2007 ainda não foram sistematizados.

Para ler o artigo Distúrbios no perfil lipídico são altamente prevalentes em população nipo-brasileira, de Antonela Siqueira e outros, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.