quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Medicina Chinesa, tradicional ou complementar, porém sempre atual

Publicado em: 19/10/2005 na Secretaria de Saúde do Rio

As terapias da Medicina Tradicional Chinesa estão sendo cada vez mais incorporadas ao cotidiano das populações dos países do Ocidente. Nos EUA, considerado o país mais avançado da Medicina Moderna, estima-se que 40% da população procure este tipo de tratamento. O que significa este tipo de movimento? Na aparente contradição o fenômeno aponta para a busca de um novo paradigma.

Alguns aspectos da nossa saúde ainda não são compreendidos pelos avanços tecnológicos da medicina convencional. Esta, atendo-se a complexidade biomédica, considera apenas um aspecto do ser humano, isto é nosso corpo, nossos órgãos, nossos tecidos, nossa divisão micróscópica celular, nossos hormônios e enzimas, da bioqúimica e da forma como se manifesta a doença. É maravilhoso esse desvendar da nossa máquina, mas isto não parece explicar outro aspecto da nossa saúde, que não se observa , não se toca, não é demonstrado através do microscópio, não se mensura nos equipamentos mais sofisticados da nossa medicina laboratorial. São nossas percepções, pensamentos, emoções, sensibilidades, motivações e energia que movem nossa vida, numa unicidade, integrando corpo e mente.

Neste contexto, se não é uma elaboração de pensamento completo e perfeito, a Medicina Tradicional Chinesa, é um sistema de funcionamento lógico e inteligente para explicar como os fenômenos que ocorrem no nosso organismo de uma maneira dinâmica e contínua podem afetar nosso estado frágil de equilíbrio . Sobrevivendo durante cerca de 6000 anos, através de uma civilização mais antiga que ainda perdura até hoje, continua ela tão viva e eficaz para responder às demandas dos problemas de saúde tão contemporâneos como fibromialgia, processo hipertensivo arterial, transtorno de ansiedade generalizada, disfunções hormonais, transtornos funcionais urinários ou síndrome de cólon irritável. Explicações aparentemente simples e singelas, através de uma abordagem racional, são as bases teóricas utilizadas pela Medicina Chinesa.

Os conceitos tão antigos quanto os da cultura chinesa tentam explicar a nossa origem, nossa constituição, nossa insignificância diante do universo ou cosmo como diziam os chineses. Yin e Yang, Chi, energia principal que move nosso organismo, energia do Céu (ar que respiramos) e da Terra (fonte de alimentos que consumimos), movimento dos Cinco elementos(fogo, terra, metal, água e madeira), teoria nascida de uma observação da natureza para explicar todos os fenômenos que ocorrem em nossa volta, incluindo como funciona o nosso organismo. Outros constituintes básicos do nosso organismo como XUE (sangue), JING (essências), Ming Men (Portão da Vida), SHEN (onde concentra nossa atividade mental) e uma rede de canais energéticos. Essa última é a rede virtual dos canais denominados pelos franceses de MERIDIANOS, onde circula O Chi num fluxo contínuo. Estes canais virtuais, superando muito além dos órgãos anatômicos como sistemas circulatório ou nervoso, são verdadeiras "artérias energéticas" que impulsionam a vida do organismo.

Assim 4000 anos antes de Cristo, esta Medicina capaz na sua lógica de integralidade e unicidade, configurava as idéias , em outras linguagens simbólicas, tão atual como os conceitos hoje chamados de genética, imunologia, neurotransmissores. Sua racionalidade já desenhava os conceitos de etiopatogenia (causa de doença) e processo de fisiopatologia (modificações de funcionamento do corpo devido a doença), assim destacava-se sobre as causas das doenças. Os agentes exógenos chamados de fatores externos atualmente conhecidos como os do meio ambiente, e fatores internos que assumem a importância da questão mental nos processos de adoecimento. Identificava as doenças de proporções epidêmicas que chamavam de fatores pestilentos que possivelmente dizimavam as populações pela passagem de algum vírus novo de letalidade observada. Nesta classificação, já faziam parte as causas externas como ferimentos e fraturas por quedas e acidentes sobretudo no ''ambiente'' de trabalhos pesados nas construções e nas guerras, frequentes na época pois dezenas de reinos ainda não compunham a China unificada.

Os procedimentos utilizados para o diagnóstico, já advogavam uma anamnese (história)completa, exame clínico com inspeção (observação), ausculta e palpação, hoje quase o mesmo repertório é utilizado na semiologia da medicina moderna. Terapeuticamente falando, diversos recursos como alimentação correta, massagem (TUI NÁ), terapia de movimento (TAI CHI/LIAN GONG), exercícios de respiração, concentração e relaxamento (QI GONG), fitoterapia e acupuntura com aquecimento por moxa, indicam a hierarquização onde predomina a necessidade de tomarmos consciência da prevenção como hábito saudável e auto educação em promoção de saúde. Esse é um aspecto preventivo que a medicina chinesa trabalha para preservação da saúde. O mais importante de tudo isso é um conceito integrativo no qual não há espaço para fragmentação do organismo, a dualidade MENTE-CORPO, emoções e razão, energia e forma.

Cada vez mais, está ocorrendo essa troca de benefícios entre as diversas medicinas diferentes. As medicinas tradicionais, não têm como demonstrar com o rigor e a cientificidade da experimentação e da observação sistematizada, o que a moderna medicina ocidental realiza, nem competir com o trabalho avançado de classificação de doenças através de sintomas e sinais, uma vez que só os recursos tecnológicos atuais permitem esse avanço da biomedicina.

Compreendendo que no futuro deveria haver apenas única medicina, a complementaridade das medicinas tradicionais sobretudo a chinesa e outras práticas médicas como HOMEOPATIA, só poderá trazer mais benefícios para toda humanidade. Esse conceito de complementaridade e interdependência, tipicamente chinês poderá unir os aspectos positivos de várias medicinas na construção de uma integralidade do conceito de saúde.

Do ponto de vista clínico no entanto, um novo olhar para a mudança de perfil epidemiológico da demanda de pacientes redireciona a necessidade do processo de fusão entre as duas medicinas em futuro breve. Devendo continuar o aproveitamento do que há de bom nas duas, uma na procura e investigação precisa das doenças e a outra propondo um tratamento mais preventivo e simplificado, com menos efeitos colaterais para 80 % dos problemas de saude mais comuns, solucionáveis no cotidiano ambulatorial. Conhecendo as limitações das duas medicinas , ambas podem trabalhar em conjunto para a saúde dos homens. Se não curar , palavra um tanto forte na atualidade , temos a obrigação de aliviar e trabalhar para diminuir o sofrimento e melhorar a qualidade de vida.

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