segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Memórias estressadas

Mente e Cérebro
Um pouco de agitação pode até fortalecer a memória. mas, depois de uma situação prolongada de stress, o cenário mental já não é tão satisfatório.
por Robert M. Sapolsky

O primeiro beijo. O casamento. O dia em que o carro saiu do controle na estrada e passou raspando pelo caminhão. Onde você estava quando houve uma inundação, quando Kennedy foi assassinado, durante o ataque de 11 de setembro de 2001. Cada detalhe desses eventos marcantes é gravado a fogo na sua mente, ainda que você não consiga se lembrar de absolutamente nada do que aconteceu nas últimas 24 horas. Ocasiões excitantes, emocionantes e grandiosas, inclusive as estressantes, são arquivadas facilmente. O stress pode melhorar a memória.

Todos nós também já passamos pela experiência oposta quando estamos estressados. Na primeira vez em que encontrei a família da minha futura esposa, estava com um nervosismo dos diabos; durante um jogo de palavras terrivelmente disputado depois do jantar, pus a perder a liderança da equipe composta por mim mesmo e por minha futura sogra com a total incapacidade, num momento crítico, de lembrar a palavra "caçarola". Alguns casos de falha da memória estão ligados a traumas infinitamente maiores: o veterano que passou por alguma catástrofe de batalha impronunciável, alguém que sofreu abuso sexual na infância - para quem os detalhes se perdem numa névoa amnésica. O stress pode atrapalhar a memória.

Para pesquisadores que estudam o fenômeno, como eu, essa dicotomia é bastante familiar. O stress melhora algumas funções em certas circunstâncias e as atrapalha em outras. Pesquisas recentes mostram como situações estressantes leves ou moderadas melhoram a cognição e a memória, enquanto as fortes ou prolongadas prejudicam essas capacidades.

Para entender como o stress afeta a memória, vamos a alguns dados básicos sobre como as memórias são formadas (consolidadas), como são recordadas e como podem desaparecer.

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Robert M. Sapolsky é professor de ciências biológicas e neurologia da Universidade Stanford e pesquisador-associado do Museu Nacional do Quênia, onde estuda uma população de babuínos selvagens há mais de 25 anos. Concluiu seu dotourado em neuroendocrinologia na Universidade Rockfeller em 1984. Os campos de pesquisa de Sapolsky incluem morte neuronal, geneterapia e fisiologia de primatas.

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